Governo Dilma pretende usar reforma da previdência para não fechar as contas de 2016 no vermelho e aliviar crise política
10 de Março de 2016 às 16:07:04Segundo o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa (foto), nesta quinta-feira (10), durante abertura de seminário em comemoração aos 30 anos do Tesouro Nacional, 'É preciso fazer a reforma na Previdência, e rápido, senão as consequências para a população serão ainda mais drásticas.'
A questão é: drástica para a população ou para o governo? Em 2015, o governo Beto Richa tentou a mesma manobra em reformar a previdência. Não para lhe garantir sustentabilidade da previdência, mas resolver um problema momentâneo do caixa do governo ao se utilizar da poupança previdenciária dos servidores públicos. A tentativa do Governo do Paraná não obteve êxito totalmente devido a uma longa greve do conjunto dos servidores públicos entre os meses de fevereiro a junho daquele ano.
Desafio de 2016: Preservar as conquistas previdenciárias
Insiste o Ministro Barbosa: "Ainda estamos numa situação em que podemos enfrentar esses problemas de forma previsível e gradual, sem sobressaltos e sem surpresas. O adiantamento do enfrentamento desse problema vai tornar inevitável a adoção de medidas mais drásticas num futuro mais próximo, o que não é bom para ninguém."
A fala vem no momento em que Barbosa enfrenta resistência da base aliada do governo e até do próprio Planalto para entregar, ainda neste primeiro semestre, a reforma que pretende cortar gastos com aposentadorias.
A fala de Barbosa, focada no ajuste fiscal de "curto e longo prazo", como tem reforçado, fez um apelo pelo fim da animosidade política, dizendo que vai buscar o consenso entre propostas, citando o PT e o PMDB.
Neste momento de crise econômica, interna e global, e de convulsão política, Barbosa depende do Crongresso para aprovar seus mais relevantes projetos fiscais, como a reforma previdenciária e a medida que dá margem para fechar o ano com as contas no vermelho. No entanto, nem mesmo o partido da presidente tem abraçado o pacote fiscal de Barbosa.
"Nossa proposta procura um consenso, procura um meio termo para resolver todos os nossos problemas. Não é hora de extremismos na política econômica, é hora de voltar à normalidade."
MEDIDAS
Barbosa não usou meias palavras para dizer que a situação da economia no país é grave e pediu ações de grande impacto.
"Passamos por uma situação desafiadora, não há dúvida sobre isso. Tudo indica que o Brasil tenha um segundo ano consecutivo de queda no nível de atividade. Isso não acontece no Brasil desde os anos 30 do século passado."
"Essa não é uma situação usual, e como qualquer situação não usual, requer medidas não usuais. É preciso adotar medidas estruturais de longo prazo", completou.
Enquanto busca uma agenda de curto prazo, que envolve o abandono da poupança do ano para tentar reanimar a agenda de investimentos em programas como o "Minha Casa, Minha Vida", Barbosa reforçou que está batalhando por um ajuste de médio e longo prazo, para um equilíbrio mais "duradouro" das contas públicas.
O ministro defendeu sua agenda econômica, que envolve o destravamento de crédito e condições mais frouxas para os Estados negociarem suas dívidas com a União, com contrapartidas de rigor no controle dos gastos por parte desses entes.
Segundo ele, adotar apenas medidas de estímulo no curto prazo para estabilizar a economia não funciona, é preciso controlar as despesas, principalmente as obrigatórias, no longo prazo.
"Precisamos evitar o otimismo excessivo, pois isso leva à complacência. E devemos evitar o pessimismo excessivo, porque isso leva à paralização. Temos que atuar com realismo, com a urgência que o país precisa e com a serenidade que o país precisa."
Barbosa diz que é realista achar que a atividade econômica do país pode parar de cair no terceiro trimestre e voltar a crescer no quarto trimestre deste ano.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo com edição da Adunicentro
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