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O respeito não foi uma 'demonstração' do governador Beto Richa; foi uma conquista dos que lutaram contra uma política injusta e truculenta

08 de Janeiro de 2016 às 21:58:45

O Governador Beto Richa divulgou que os salários dos servidores estaduais terão reajuste de cerca de 10,8%, a ser pago já na folha de janeiro. O ajuste é feito com base no acumulado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015.


Acrescenta, o governador que “Essa é uma demonstração do respeito e da valorização do trabalho dos funcionários estaduais. Estamos fazendo um esforço para honrar os compromissos e melhorar as condições dos servidores”.


Entretanto, as categorias dos servidores públicos do estado sabem que respeito e valorização foi o que não se teve por parte do Governador. Não houve respeito no Pacotaço de Natal (2014); nem no Pacotaço de Fevereiro com o rito da Comissão Geral; não houve respeito em 29 de abril; não houve respeito na tentativa judicial de acabar com uma greve legítima; não houve respeito quando divulgou salários dos professores escolhidos a dedo e majorados como tentativa de lhes quebrar a espinha; não houve respeito quando colocou as finanças do estado em má condição.



Porém, a única categoria que permaneceu em greve até o fim, para garantir o cumprimento da lei da data base para maio e os 8,17%, foi a dos professores das universidades lideradas pelas seções sindicais do ANDES-SN.


Àquela época, manifestamos respeito à decisão das demais categorias dos servidores públicos e, especialmente a categoria representada pela APP-Sindicato, a maior, quando se retiraram da greve devido ao acordo em favor dos 3,45%. Entretanto, naquele momento deixamos claro que não concordávamos com os 3,45%. Nossas assembleias avaliaram que a luta pelo 8,17% ainda não havia terminado.


A divulgação de salários majorados junto à opinião pública (como já havia feito com os professores da rede), como forma de intimidar os docentes das universidades não funcionou. Serviu apenas para mostrar a face vingativa do Governador Beto Richa que não se conformou com a derrota do pacotaço de fevereiro e com o desastre de 29 de abril.


As assembleias dos Docentes das Universidades nunca aceitaram os 3,45% para outubro. Esta proposta foi fruto de um 'acordo' de alguns sindicatos com a base governista e com quase todos da oposição e do qual não participamos. Ela não tinha respaldo em nossas assembleias e, portanto não tínhamos compromisso com isso. Entretanto, o ‘acordo’ tinha o apoio da quase totalidade dos deputados. 



Apenas o deputado Requião Filho declarou que votaria pelos 8,17% retroativo a maio (em reunião conosco, demos nosso apoio em favor deste voto) mas que sentia o receio de ser responsabilizado caso o governo cumprisse com a ameaça do 0%. Os comandos de greve docente das Universidades precisavam convencer mais deputados que o 'acordo' anunciado como consensual não o era, pois as assembleias nas Universidades o haviam rejeitado e mantido a greve. Havia a tentativa de intimidação do presidente da ALEP, Dep. Ademar Traiano, que afirmou que se a proposta não obtivesse 100% dos votos, ele retiraria de pauta a proposta dos 3,45% e seria ZERO de reajuste para todos os servidores públicos.  As galerias da ALEP, tomada pelos docentes das Universidades e pelos professores da Curitiba-Norte da APP-Sindicato não se intimidaram quando Traiano anunciou no microfone que iria retirar. Em uníssono bradamos com centenas de punhos levantados: RETIRA! RETIRA! RETIRA! Traiano não sustentou a ameaça e recuou. As assembleias docentes em todas as universidades foram claras em manter a luta até o último recurso e que preferiam zero a aceitar os 3,45%.


Em 23 de junho de 2015, com a sua base reduzida a 27 deputados da assembleia legislativa do Paraná, o governador Beto Richa negou a reposição salarial de 8,17% para os servidores públicos. Entretanto, 20 deputados (da oposição e outros que romperam com o governo devido à nossa ação) aprovaram a emenda proposta pela oposição, a pedido das seções sindicais do ANDES-SN. “Não esqueceremos!”, foi o grito que estremeceu as galerias da ALEP.


A diferença entre os 8,17% e os 3,45% representou R$ 540 milhões, metade do aumento nas receitas líquidas de junho. Para ajustar o caixa da má gestão, o governo fez pacotes de cortes de gastos enquanto permanece privilegiando o sistema financeiro.



Sobre respeito, citamos Albert Camus*: “Nada é mais desprezível que o respeito baseado no medo”.  A todos, professores, estudantes e demais servidores públicos que lutaram bravamente, se o governador fala em respeito, só pode ser pela coragem e compromisso com o público que demonstraram diante de tantas tentativas de intimidação e uso da força. Não aceitaríamos o reconhecimento se fosse de outra forma, pois o povo do Paraná não merece nada menos que isso de seus servidores públicos.


 


*Albert Camus foi filósofo, escritor, jornalista e membro ativo da Resistência Francesa na luta contra a invasão alemã da França nos anos 1940.



 


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