Notícias

Governo Beto Richa pretende implantar modelo de previdência relacionado a uso político dos recursos. CPI no Congresso Nacional aponta desvios de cerca de R$ 3 bilhões em fundos de pensão

02 de Abril de 2016 às 17:16:41

O rombo crescente dos fundos de pensão receberá um ingrediente a mais na próxima semana. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o setor concluiu que houve um desvio bilionário dos quatro maiores fundos estatais: Funcef (Caixa), Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Postalis (Correios). O valor, que ainda está sendo fechado pela CPI, é de aproximadamente R$ 3 bilhões.


Já o Governo Beto Richa, decide retornar com 'pacote de maldades' e quer privatizar a previdência. Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo em 10 de fevereiro, o secretário de Estado da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, afirma que o “ajuste fiscal” promovido pelo governo de Beto Richa (PSDB) ainda não acabou. O ponto principal a ser encaminhado à Assembleia Legislativa, volta a ser a previdência privada para os servidores. A mesma que havia sido derrotada pelos servidores na greve em 2015. Esta vai funcionar nos mesmos moldes em que a CPI no Congresso Nacional aponta para a suspeita de que parte do rombo tem relação com o uso político do patrimônio, a má gestão de recursos dos funcionários e investimentos de alto risco.


Leia também: Professor da UNICENTRO participa, em Recife, de encontro que debateu a previdência complementar


MATÉRIA RELACIONADA: Novo ataque aos servidores no plano de auxílio aos estados


Maiores fundos estatais estão na lista, como da Caixa, do Banco do Brasil, da Petrobras e dos Correios


As possíveis fraudes devem levar ao pedido de indiciamento de mais de 100 pessoas, segundo o relator da CPI em Brasília, o deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR). Ele diz que há pelo menos 15 casos de negociações suspeitas, que serão detalhadas no texto final a ser apresentado nos próximos dias.


As perdas por desvios, se comprovadas, se somariam a prejuízos que esses fundos vêm registrando em projetos duvidosos e de interesse do governo – como o investimento na empresa que deveria fornecer sondas à Petrobras, a Sete Brasil – e à redução de patrimônio provocada pelo mau momento do mercado financeiro.


Esses quatro fundos, criados para garantir a aposentadoria de funcionários das estatais, acumularam um déficit atuarial calculado em R$ 60 bilhões até o fim do ano passado. Eles representam 77% do rombo do setor em 2015, estimado em R$ 77,8 bilhões pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc).


A investigação pode corroborar a suspeita de que parte do rombo tem relação com o uso político do patrimônio. Para Sérgio Souza, embora parte do déficit decorra do cenário econômico, a má gestão de recursos também teve o seu papel nos resultados negativos.


“É claro que há perdas relativas à queda de ações, como é o caso da Vale, que tem o investimento dos fundos do Banco do Brasil e da Petrobras. Mas há também muitos investimentos que foram feitos de forma errada, como o da Sete Brasil, o que ocasionou em uma perda gigantesca aos fundos”, considera.


Gestão


A administração dos grandes fundos vem sendo questionada por sua participação em negócios de risco tão elevado quanto o interesse governamental. O mais emblemático é o aporte bilionário feito na Sete Brasil. A empresa foi criada para o aluguel de sondas de exploração para a Petrobras operar no pré-sal. O negócio recebeu aportes de R$ 180 milhões da Previ, R$ 1,2 bilhão da Petros e R$ 1,2 bilhão da Funcef.


Com o encolhimento dos investimentos da petroleira, a Sete Brasil está em vias de pedir recuperação judicial. Os sócios tentam evitar a necessidade de registrar as perdas no investimento, como anunciou na última semana o FI-FGTS, que declarou ter perdido R$ 1 bilhão no negócio.


Outro caso é o da Invepar, grupo criado para atuar na área de infraestrutura e que tem a participação dos mesmo três fundos. A empresa é responsável pela concessão do Aeroporto de Guarulhos e por rodovias federais. Entre os acionistas estão a OAS, empreiteira envolvida na Lava Jato, que está em recuperação judicial. Sem contar com recursos da OAS, a Invepar enfrenta problemas de caixa, o que levou os fundos a injetarem R$ 1 bilhão no negócio no início do ano.


Situação parecida é enfrentada na Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Seu custo de construção sobe a cada ano, fato que já entrou no radar do Tribunal de Contas da União, que abriu investigação sobre o projeto. A obra, assumida por um consórcio majoritariamente público, tem participação da Petros e da Funcef. O detalhe está na execução, tocada por um consórcio de empreiteiras que inclui empresas investigadas pela Lava Jato, como OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Camargo Correa.


Conta será repassada aos trabalhadores


As perdas acumuladas pelos fundos faz com que os trabalhadores tenham de colaborar para tapar esses rombos. Segundo a legislação, quando os fundos têm perdas em mais de três anos ou superiores a 10% das reservas, é necessário que se faça um equacionamento. Na última semana, o Postalis informou que os funcionários terão com acréscimo de 17,92% nas contribuições pelos próximos 23 anos. O fundo tem perdas consecutivas desde 2012. Até setembro passado, o rombo era de R$ 5,7 bilhões. O Funcef também prevê um reajuste de 2,78% nas contribuições do plano Reg/Replan Saldado a partir de maio.


Raio-X do rombo


Os fundos de pensão amargaram no ano passado um déficit estimado em R$ 77,8 bilhões. No fim de março, as perdas eram de cerca de R$ 36,4 bilhões. Ao todo, há 86 fundos estataisno Brasil, que detêm 63% dos ativos do setor:





1 Patrimônio total até o período de fechamento dos balanços. 2 Números relativos ao acumulado até setembro de 2015. 3 Valor estimado pelo mercado. 4 Números relativos ao acumulado até novembro de 2015.


Fonte: Gazeta do Povo com edição da Adunicentro