Ações truculentas, desocupações em comunidades carentes, violência da polícia e caos no sistema prisional mostram a postura do governo em relação à sociedade brasileira
Em meio aos escombros, os moradores da comunidade Metrô-Mangueira, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, tentam resistir e sobreviver às ações truculentas promovidas pelo Estado na desocupação da região, iniciada nesta semana, marcada pela destruição, expulsões, violência e desrespeito. Na última terça-feira (7), ao protestarem contra o despejo de centenas de famílias que vivem no local, os moradores tiveram como resposta a violência, com agressões e intimidações por parte da polícia, com a utilização da força, spray de pimenta e bombas de efeito moral.
A comunidade fica a menos de 500 metros do estádio Maracanã, palco da final da Copa do Mundo de 2014. Desde 2010, os moradores sofrem com as ações do Estado, que tenta retirá-los do local por conta da proximidade com o estádio que será utilizado na Copa do Mundo. Para esta região, está prevista a construção do Polo Automotivo Mangueira.
Relatos denunciam que os moradores nas proximidades da Mangueira estão sendo "atacados pela tropa de choque, para seguir com as remoções no Rio de Janeiro". "O método é sempre o mesmo: ao cair da noite começam as bombas, se instala a guerra e todos os abusos contra pessoas simples do povo, já extremamente fragilizadas pelas ações terríveis (...)", diz o comentário. Também, é possível acompanhar a violência sofrida pelos moradores e transmissões ao vivo feitas pelo Mídia Ninja, entre outros veículos de comunicação alternativa, em uma cobertura diferente das matérias veiculadas pelos jornais de grande circulação do país, que apenas retratam os protestos sob a ótica do prejuízo para a população.
As manifestações dos moradores continuaram na quarta e quinta-feira (8 e 9), que após a derrubada das casas, sofrem com a falta de coleta de lixo, luz e água. Na terça (7), três manifestantes foram detidos, e, desde quarta-feira, a quantidade de policiais na região aumentou. Policiais militares do Batalhão de Choque entraram com pelo menos três viaturas na comunidade.
Mais violência e descaso
Os excessos da polícia e o descaso por parte do governo ultrapassam a forma repressora com que o Estado tem agido com a população que se manifesta de forma contrária às suas medidas. Às vésperas do final de 2013, na madrugada do dia 30 de dezembro, a PM do Rio de Janeiro foi responsável pela morte absurda do estudante João Pedro, 23 anos, baleado e morto pela polícia. Neto de José Onildo Meneses, bancário aposentado e militante da área de saúde psiquiátrica que presta atendimento voluntário na sede da CSP-Conlutas RJ, João Pedro é mais uma vítima do despreparo e truculência da polícia, e da política de segurança do Rio de Janeiro.
Além de João, mais três estudantes que estavam no carro ficaram feridos após perseguição da PM, que começou na Linha Amarela e terminou na Avenida Dom Helder Câmara, na altura de Pilares. Foram disparados 50 tiros contra o carro dos jovens. Algumas versões dadas pela polícia já foram desmentidas durante a investigação.
As contradições do discurso de que a Copa do Mundo trará benefícios e qualidade aos serviços públicos para a população se repetem quando se analisa o sistema penitenciário do país, no qual a população carcerária sofre com o descaso do governo. Nos últimos dias, a imprensa expôs o caos das penitenciárias no Maranhão e no Rio Grande do Sul. Enquanto o governo do Maranhão prevê a utilização do dinheiro público na licitação de alimentos de mais de R$ 1 milhão para 2014, o descontrole toma conta do complexo de Pedrinhas, em São Luís (MA). Três presos foram decapitados durante rebelião que dura mais de 20 dias.
No Rio Grande do Sul, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, tribunal vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA), pediu, na primeira semana de janeiro deste ano, a adoção e uma série de medidas no Presídio Central, em Porto Alegre, apontada como a pior do país pela CPI do Sistema Carcerário no Congresso Nacional, em 2008. As providências visam a garantir a vida e integridade dos detentos, além de assegurar condições de higiene e tratamentos médicos adequados, entre outras. Atualmente, mais de 4 mil presos superlotam as galerias do Presídio Central, que tem capacidade de pouco mais de 2 mil detentos.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada na quinta-feira (9), um preso é morto a cada dois dias no Brasil, e ao menos 218 detentos foram assassinados em 2013. O Complexo de Pedrinhas responde por todas as mortes no Maranhão, e 28% do total.
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Fonte: ANDES-SN