Primeira geração de diplomados do sistema de cotas se destaca pelo engajamento com ações sociais. Experiência da UERJ mostra que os resultados foram muito além do esperado, segundo pró-reitora de ensino da i
25 de Agosto de 2013 à s 16:32:23As cotas deram mais certo que o esperado. Além de se mostrarem alunos competentes, os cotistas levam para a universidade e o mercado de trabalho uma maior consciência social, e buscam retribuir a oportunidade que tiveram por meio de ações e projetos educativos. Na próxima quinta-feira, a Lei das Cotas completa um ano, e o Brasil só tem a agradecer.
"Os resultados foram muito além do que esperávamos", afirma a sub-reitora de graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Lená Medeiros de Menezes. Segundo ela, alunos cotistas se formam em maior número e têm índice de evasão menor que os não-cotistas.
"Esses alunos têm consciência de que, ao sair da universidade, devem colaborar para o meio em que vivem. Eles compreendem que têm um papel a cumprir na sociedade", avalia a sub-reitora.
Muniz Sodré, pesquisador referência na área de Ciências Sociais, é professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atualmente dá aulas também na Uerj como professor convidado. Ele conta que se encantou com o resultado da política de cotas.
"Há uma diversidade muito grande nas aulas. Os alunos cotistas são atentos, me parecem muito gratos por estar ali. São muito respeitosos com o professor, o que nem sempre é comum em alunos dessa idade", explica Muniz.
Matriculado no último período de Biologia da Uerj, Michel Francis Costa da Silva, de 25 anos, sempre estudou em colégios públicos e atualmente dá aulas em um curso pré-vestibular comunitário. "Muitos são aprovados e às vezes encontro com eles pelos corredores da Uerj. É muito gratificante saber que ajudei alguém a alcançar seus sonhos e objetivos ", diz ele.
Formada no curso de Relações Públicas da Uerj, Tayara Vinemey, 22 anos, também estudou em instituições públicas. Ela diz que procura ao máximo ajudar os jovens do bairro em que mora, em Padre Miguel, Zona Oeste do Rio, a ingressar na universidade pública. "Sou muito agradecida às cotas e me esforço para que outras pessoas tenham acesso à mesma oportunidade que eu tive", alega a profissional formada este ano.
COTAS NÃO SUBSTITUEM INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO
Apesar de reconhecerem a necessidade das cotas para reduzir as diferenças sociais, entusiastas da medida afirmam que o ideal seria que houvesse uma educação básica de qualidade. Assim, todos teriam acesso às universidades.
Professor do curso de Serviço Social da Anhanguera Unipli e autor do livro "Afrocidadanização", Reinaldo Silva Guimarães afirma que a educação de base precisa ser transformada em sua estrutura para que ações afirmativas como as cotas não sejam mais necessárias. "As cotas existem e são positivas, mas há alunos que não concluem sequer o Ensino Médio", explica.
Para a sub-reitora de graduação da Uerj, Lená Medeiros de Menezes, as cotas foram uma medida para tentar diminuir as injustiças sociais, mas são temporárias. "Tem que haver transformações no ensino como um todo, porém, o que se vê é mais um discurso de mudança que um investimento real. Pode ser que isso mude com o repasse dos recursos dos royalties do petróleo para a Educação", avalia.
Segundo Muniz Sodré, a facilidade de acesso dos estudantes negros e de baixa renda às universidades mostra que quando há oportunidades, esses jovens provam ser tão capazes quanto os estudantes da elite. "As cotas são uma etapa para colorizar mais as universidades, mas não devem ser permanentes porque têm um lado humilhante. A maioria da sociedade branca não gosta. O que não se entende é que quem nasce branco já é cotado", diz.
Racismo ainda é uma realidade
Para Frei David dos Santos, coordenador do Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), a Lei das Cotas teve impacto no â??status quoâ?? da sociedade. "É uma revolução dos excluídos, que deram a volta por cima e hoje ajudam na construção de uma nova sociedade", diz.
De acordo com Michel Francis Costa da Silva, porém, nos cursos mais tradicionais da Uerj ainda há preconceito. "No Departamento de Biologia eu nunca sofri discriminação, mas Medicina, Direito e algumas Engenharias são cursos que segregam. Isso parte tanto dos alunos quanto dos professores", revela.
Muniz Sodré afirma que a política de cotas deu certo, pois cumpriu seu papel de levar a diversidade às universidades e promover a igualdade social. "Eu vejo a resistência às cotas como uma forma de racismo", declara o professor.
STEPHANIE TONDO - Jornal O Dia