Evasão em licenciatura chega a 39%. Quatro em cada dez alunos que iniciam uma graduação voltada à formação de professores não chegam ao fim do curso no Paraná
19 de Julho de 2013 às 18:52:00- Segundo a ADUNICENTRO, um aspecto nesta discussão que não pode ser menosprezado, é que a falta de assistência estudantil (R.U., moradia estudantil, bolsas, p.ex.) contribui para o alto índice de evasão discente nas licenciaturas. Dados do questionário sócio-econômico aplicado aos vestibulandos da UNICENTRO dão conta que 51% vêm de famílias cuja renda é de até dois salários mínimos. A maior parte destes estudantes optam pelas licenciaturas. Assim, é razoável ponderar que investimentos em assistência estudantil podem minimizar a evasão discente daqueles que optam pelos cursos de formação de professores. A solução, no entanto, deve perpassar por uma discussão global da situação que leve em conta tanto a valorização da profissão de professor, a melhora nas condições no ambiente de trabalho porém, sem deixar de levar em consideração que a expansão de vagas nas universidades trouxe para dentro do ambiente acadêmico estudantes de origem mais pobre e que carecem de uma política consistente de assistente estudantil que favoreça sua permanência.
Abaixo segue a matéria publicada no Jornal Gazeta do Povo
Quase 40% dos alunos que iniciam alguma licenciatura no Paraná não chegam a se formar. Todo ano, em média, 15,3% desistem dos cursos, voltados principalmente à formação de professores para a educação básica (ensinos fundamental e médio). Os dados, levantados pelo Instituto Lobo com base no Censo Escolar, revelam a dificuldade que é formar novos docentes e como a sala de aula está longe de ser capaz de atrair esses profissionais.
"Não há estímulo. A carreira não atrai, o salário não atrai. Isso tem impacto direto na qualidade da educação. Em algumas regiões, alunos da educação básica estão há anos sem aulas de ciências por falta de professores", avalia o presidente do Instituto Lobo, Roberto Leal Lobo.
Nas faculdades, alunos estão desmotivados
No segundo semestre de 2010, Alice Mara de Freitas, hoje com 20 anos, começou a cursar Física na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTPFR) com o nobre sonho de lecionar. Mas as fracas perspectivas salariais a fizeram deixar de lado as fórmulas e experimentos. Desestimulada, abandonou a graduação. "O curso é muito pesado. Então, seria um esforço muito grande para uma remuneração pequena que eu teria depois de formada. Vi que não valeria a pena", conta. Hoje, Alice cursa Informática Biomédica na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Já Andressa Alves de Oliveira, de 25 anos, está no último ano de Letras na Universidade Tuiuti do Paraná. Porém, ao sentir na pele a desvalorização a que os professores estão relegados na rede pública, ela tem dúvidas se vai para a sala de aula após se formar. "Durante o estágio, fiquei completamente desiludida com a indisciplina e desrespeito dos alunos. Tive dúvidas se há como mudar isso", lamentou.
Desinteresse
Metade dos alunos de licenciatura não sabe se vai lecionar
Mesmo para os alunos de licenciatura que não abandonam o curso, a carreira de professor parece não ser tão atrativa. O desinteresse é comprovado na dissertação de mestrado, concluída no ano passado, da pesquisadora Luciana França Leme, da Universidade de São Paulo (USP). Ela ouviu universitários de licenciaturas da instituição e descobriu que quase a metade não quer ou tem sérias dúvidas se vai lecionar após concluir o curso.
Em Física, 47,5% dos universitários não querem ou não sabem se querem ser professores. No curso de Matemática, o índice chega a 45,2%. Em Pedagogia, o problema é um pouco menor: 24,3% dos alunos não sabem ou não querem ir para sala de aula depois da formatura.
"Os resultados indicam que é a profissão [professor de ensino básico] que não tem sido atrativa. É preciso segurar essa metade dos alunos que querem lecionar e criar estímulos para essa parcela que está desmotivada e quer ir para a sala de aula", diz Luciana.
INFOGRÁFICOS: Índices são preocupantes em todas as áreas
A fuga da sala de aula não se restringe ao Paraná. Em todos os estados, o índice de evasão é considerado alto. De acordo com a média nacional, 48% dos alunos de licenciatura não chegam a se formar. A cada ano, 19,6% desistem do curso.
O mapeamento nacional mostra índices preocupantes em todas as áreas de conhecimento. Em Física, a taxa de evasão anual é de 26,4% e mais de 60% dos alunos não chegam a terminar o curso. Entre quem cursa literatura estrangeira, 24,5% desistem a cada ano e quase 57% saem da faculdade antes de pegar o diploma.
O desempenho em alguns cursos de instituições paranaenses supera a média do país. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o índice de evasão - calculado entre 1992 e 2011 - chega a 56% em Matemática e em Física, ambos do período noturno. Os mesmos cursos também obtiveram as maiores taxas na Universidade Estadual de Ponta Grossa: 69% em Matemática e 40% em Física (dados de 2013). A reportagem também consultou outras três universidades públicas do Paraná, mas elas não tinham os dados compilados até o fechamento desta edição.
Sinal vermelho
O governo do Paraná criou um fórum para tratar do problema e tentar reverter a falta de atratividade da licenciatura. A Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) está compilando dados de evasão nas instituições e identificando gargalos para, a partir deste diagnóstico, definir políticas para o setor.
O chefe da assessoria de planejamento de ensino superior da Seti, Décio Sperandio, adianta que as ações terão três focos: os alunos que ainda não ingressaram na licenciatura (para atraí-los a esses cursos); os que já estão cursando (com objetivo de evitar a evasão); e os já formados (para que continuem se capacitando). "Há um certo desinteresse pela licenciatura. Então, vamos desenvolver algumas estratégias para atrair novos professores e mantê-los em sala de aula. Para isso, é preciso valorizar a educação básica e a carreira de professor", disse.
Baixos salários afugentam futuros docentes ainda no curso
O bolso é um dos fatores que mais espantam os candidatos a professor da educação básica. Para especialistas, a baixa remuneração não só desestimula os alunos de licenciaturas a seguirem nos cursos, como faz com que migrem para outras áreas ou à iniciativa privada. No Paraná, um professor com licenciatura plena recebe remuneração inicial de R$ 1.112 por 20 horas semanais de trabalho, segundo a APP Sindicato.
Para a doutoranda em educação, Luciana França Leme, da Universidade de São Paulo (USP), os governos precisam lidar com o problema de forma integrada, traçando metas de melhoria para curto, médio e longo prazos. "Mas a primeira medida é aumentar o salário. É fazer com que o docente se sinta valorizado. Tem estados que sequer pagam o piso. É inadmissível", disse.
Para Maria Helena Guariente, diretora de apoio à ação pedagógica da UEL, as universidades têm se mexido para amenizar o problema, por meio da adesão a programas de incentivo à permanência na licenciatura. "O salário desmotiva, então precisamos buscar alternativas de rever esse processo, para dar boa formação aos alunos e evitar que eles deixam a licenciatura", disse.
Bolsas
Uma dessas alternativas é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Lançada em 2009 pelo governo federal, a iniciativa oferta bolsas de R$ 400 a alunos de licenciatura, para desenvolvimento na área. No Paraná, dez instituições públicas aderiram ao projeto. Unidade que mais mantêm bolsas pelo Pibid, a UEL tem 720 alunos beneficiados.
"É muito parecido com a residência médica, porque o bolsista fica em uma escola, vivenciando aquela instituição e desenvolvendo atividades. Os resultados têm sido muito bons", disse o professor Sérgio Arruda, coordenador do Pibid na UEL.