Receita do PR aumenta 13%, mas gasto sobe 20% e rombo chega a R$ 100 mi. Governo Beto Richa aumentou cargos em comissão elevando em 15% os custos com folha de pagamento apenas no último ano, porém joga a responsabilidade em cima das U
03 de Junho de 2013 Ã s 02:14:44Fonte: Gazeta do Povo
"Em um ano, o governo do Paraná aumentou em 10% o número de comissionados no seu quadro de funcionários. Dados de março do Portal da Transparência do próprio Executivo indicam que 4.366 servidores ocupavam cargos em comissão no governo Beto Richa. No primeiro semestre de 2012, os comissionados eram 3.966, de acordo com o estudo do IBGE "Perfil dos Estados Brasileiros, de 2012". As despesas salariais com esses comissionados - que incluem os servidores de carreira que desempenham funções de chefia, direção ou assessoramento e aqueles não pertencentes ao quadro próprio do governo - aumentaram ainda mais. Passaram de R$ 16,2 milhões mensais para R$18,6 milhões - salto de 15%, segundo a Secretaria da Administração e Previdência. Â http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1364640&tit=Numero-de-servidores-comissionados-no-governo-do-Parana-aumenta-em-10#.UXFcW3XnnJo.facebook
Despesa do governo do Paraná com folha de pagamento bate novo recorde e chega ao nível mais alto dos últimos dez anos. Estado fecha contas do quadrimestre no vermelho
Nem mesmo o aumento na arrecadação muito superior à inflação e ao PIB impediu que o governo do Paraná fechasse no vermelho as contas dos primeiros quatro meses de 2013 - com um rombo de cerca de R$ 100 milhões. No primeiro quadrimestre deste ano, o Executivo estaÂÂdual arrecadou R$ 10,3 bilhões - um incremento de 13,8% em relação ao mesmo período de 2012 (o ano passado fechou com inflação de 6,49% e crescimento do PIB nacional de cerca de 1%). Ainda assim, as despesas gerais do governo subiram bem acima do acréscimo de receitas e totalizaram R$ 10,4 bilhões de janeiro a abril. Um valor 20,6% maior do que no primeiro quadrimestre do ano passado. Os dados foram divulgados ontem pelo governo estadual.
INFOGRÁFICO: Veja os números da gestão Beto Richa
Arnaldo Alves/ANPr
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Richa almoça com deputados da bancada paranaense em Brasília: universidades e empréstimos em discussão
Limites
A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impõe três limites para os gastos com pessoal. Veja quais são eles para o Executivo, bem como as punições caso sejam ultrapassados:
Limite de alerta
O Tribunal de Contas envia um alerta ao Executivo sobre as despesas com pessoal quando elas chegam a 44,1% das receitas correntes líquidas. É um sinal de que as contas não vão bem.
Limite prudencial
Se o índice de 46,55% das receitas comprometidas com gastos de pessoal for superado, o governo sofre restrições, por exemplo, para reajustar salários e contratar novos servidores.
Teto máximo
Ao comprometer 49% das receitas com a folha, ocorre a suspensão de transferências voluntárias da União, da obtenção de garantias e da contratação de empréstimos. As exceções são para os casos de refinanciamento da dívida mobiliária e redução das despesas com pessoal.
Um dos gastos que mais cresceu foi com a folha de pagamento do funcionalismo. Nos primeiros quatro meses de 2012, as despesas com servidores consumiram R$ 4,4 bilhões. No mesmo período deste ano, subiram para R$ 5,4 bilhões - aumento de 22,7%. Isso levou o governo Beto Richa (PSDB) a atingir um novo recorde de comprometimento das receitas com pagamento de pessoal, de 47,68%. É o maior nível nos últimos dez anos.
Limites ultrapassados
O gasto de 47,68% das receitas com pessoal ultrapassa o limite prudencial previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Por isso, o governo está impedido de fazer novas contratações - uma das restrições impostas pela lei. "Nós não estamos nomeando mais ninguém, as promoções não estão mais sendo aceitas, novas admissões não estão sendo feitas", admitiu o secretário estadual da Casa Civil, Reinhold Stephanes.
Além disso, a folha de pagamento se aproxima do limite máximo previsto na LRF, de 49% - teto que, se ultrapassado, acarreta punições severas ao estado (veja box no alto desta página). "Estamos controlando tudo para não atingir os 49%. Estamos apertando o cinto em todas as secretarias", disse o secretário estadual da Fazenda, Luiz Carlos Hauly. "Todos os projetos de novas contratações estão parados." Hauly, no entanto, foi voz vencida na decisão do governador de dar reajuste de 6,49% para o funcionalismo em parcela única.
Apesar das restrições para novas contratações, Hauly explicou que as despesas com pessoal aumentaram por causa dos novos servidores que ingressaram no quadro do estado, além de acréscimos nas despesas com aposentadorias. "Foram contratados funcionários para a saúde, educação e segurança [durante a atual gestão]. Tivemos ainda um aumento de 40% nos gastos com aposentadoria."
Culpa federal
Hauly ainda atribuiu ao governo federal a culpa pelas dificuldades financeiras do estado. "Houve um esvaziamento das transferências federais, o que representou um déficit de R$ 767 milhões no nosso caixa." Os repasses da União não têm crescido no ritmo projetado pelos governos estaduais por causa das desonerações fiscais promovidas pelo Planalto para estimular o consumo e a economia. Por lei, parte dos impostos federais é automaticamente repassado para os estados.
Colaborou Igor Iuan, especial para a Gazeta do Povo
Richa pede ajuda para reduzir gastos com universidades
Euclides Lucas Garcia
Em reunião com a bancada federal do Paraná ontem em Curitiba, o governador Beto Richa (PSDB) pediu ajuda dos deputados para encontrar uma saída em relação aos gastos para manter as universidades estaduais. No entendimento do Executivo paranaense, essa deveria ser uma despesa custeada pela União, que detém a responsabilidade sobre o ensino superior no país.
Segundo o governo, do atual índice de 47,68% de gasto com a folha, 10,5% se referem ao pagamento de pessoal das universidades estaduais. Por isso, a intenção é que os parlamentares federais ajudem a convencer a União a arcar com parte dessas despesas ou a permitir que esses gastos não sejam computados na folha de pagamento. Dessa forma, o estado ganharia um fôlego em relação aos limites legais estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
"O Paraná tem uma situação atípica. É o único estado que sustenta sete universidades. Em Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, [o ensino superior público] é 100% federal", reclamou o secretário da Casa Civil, Reinhold Stephanes.
Empréstimos
Outro pedido aos deputados foi em relação aos empréstimos solicitados em Brasília pelo governo estadual. Na reunião de ontem, o Executivo afirmou que o estado tinha cerca de 40 pendências no Cadastro Único de Convênios (Cauc) e no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados no Setor Público Federal (Cadin).
Governos com esses problemas ficam em situação comparável à de um cidadão com "nome sujo" no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Eles ficam impedidos de firmar novos convênios com a União, normalmente utilizados para investimentos como a construção de estradas e escolas, ou de tomar empréstimos.
Segundo o governo, porém, só resta uma pendência a ser solucionada, em relação a uma estrutura já extinta da Secretaria de Transportes. A expectativa é que a questão seja resolvida até o fim desta semana. Com isso, o Paraná poderia acessar US$ 350 milhões do Banco Mundial (Bird) e R$ 817 milhões do Banco do Brasil, que serão utilizados em saúde, educação, na modernização da malha viária, no programa Paraná Seguro e no apoio aos municípios paranaenses. O prazo considerado ideal pelo Executivo para obter os recursos é 30 de junho.
Vice-presidente da Câmara e secretário nacional de Comunicação do PT, André Vargas se comprometeu a procurar o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, assim que o Paraná solucionar todas as suas pendências no Cauc e no Cadin para liberar os empréstimos para o governo do estado.
O petista, porém, fez questão de ressaltar que, ao contrário do que afirma o governo estadual há vários meses, a dificuldade na liberação dos empréstimos é administrativa e não política. "Não há perseguição política. O que há são procedimentos de natureza administrativa que precisam ser cumpridos por todos, inclusive pelos governadores do PT."
Inchaço de cargos retrata empreguismo, diz cientista político
Yuri Alâ??Hanati
Dois fatores, basicamente, explicam o inchaço de cargos comissionados no governo Beto Richa, em particular na Casa Civil, na opinião do cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Oliveira. O primeiro, descrita por ele em seu último livro, Na Teia do Nepotismo, aponta uma relação de proximidade entre o fenômeno e o emprego de pessoas próximas na máquina pública. "O comissionado não é o funcionário de carreira, concursado e meritocrático, mas sim aquele cabo eleitoral ou adulador que está vinculado ao governador. É uma política do atraso, que considera a máquina pública como um grande balcão de negócios e de empreguismo", explica.
O segundo encontra sua razão nas últimas eleições municipais. "A derrota do grupo político do governador na prefeitura de Curitiba também causou um grande remanejamento de pessoal para o governo do estado. O inchaço na governadoria explica isso. Como não é uma atividade diretamente relacionada à prestação de serviços, como saúde e educação, mas uma atividade-meio, cujo plano de trabalho não é exatamente conhecido, pode abrigar cabos eleitorais não especializados. Quem sai perdendo é a população", completa.
Para Oliveira, a cultura do comissionado é "uma grande distorção da carreira pública e do sentido do que seja o Estado moderno", e é algo que aflige o sistema político brasileiro como um todo, mas o Paraná em particular, e não apenas no Executivo.
"Ninguém no Paraná se lembra de quando ocorreu o último concurso público para a Assembleia Legislativa. Isso vai contra a concepção de uma burocracia moderna, e também contra a transparência e a pluralidade. Isso sem falar que o comissionado hoje pode ganhar muito mais do que um concursado. É só ver quanto ganha um professor especializado da rede pública e um comissionado sem especialização", diz.
Muito embora ainda haja margem de manobra grande para acomodar cabos eleitorais em cargos comissionados, há um começo de cultura jurídica e política para evitar o fenômeno. "O Ministério Público, por exemplo, começou também a intervir em órgãos institucionais em que haja um maior número de cargos comissionados do que de concursados", cita Oliveira.