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A Luta por assistência estudantil: quem ganha é a cidade e o comércio local e por consequência todos os moradores de Guarapuava e Irati

27 de Abril de 2013 às 16:38:55

Nos últimos meses assistimos o ascenso  das lutas estudantis nas cidades de Guarapuava e Irati com amplas manifestações. O que por si, só seria motivo de orgulho para docentes, pais e amigos destes estudantes, parece tornar-se a cada dia uma luta entre o bem e o mal. Quando na verdade, estamos falando da luta pela garantia de direitos básicos para qualquer cidadão, a luta pela democratização da universidade pública e da garantia da permanência dos estudantes nas salas de aula e na universidade. Os estudantes exigem o básico: ensino de qualidade, alimentação, moradia estudantil, bolsas de auxílio ao estudante com dificuldades financeiras e cotistas, passe livre em ônibus e democracia interna nas instituições públicas.

A luta por democratização, por alimentação e moradia, deve compreendida como um direito básico de qualquer estudante e que por consequência deveria também ser estendido aos docentes e técnico-administrativos. Como de fato ocorre em várias dezenas de instituições públicas pelo país, transformando o ambiente acadêmico em um espaço cada vez mais democrático. Espaço onde o livre pensar e o direito de se manifestar devem ser exercidos sem sofrer qualquer tipo de influência ou pressão. Os que hoje lutam por moradia, alimentação, transporte público de qualidade e outros direitos básicos, demonstram a construção de um país mais igual, democrático, participativo e que cada vez mais rompe com um passado truculento, excludente e antidemocrático.

Assistir a luta destes estudantes nos anima, nos enche de vida e de esperança, pois trilhamos um novo caminho, uma nova forma de sociabilidade, que assim deve ser entendida, defendida e expandida.

Ademais, as lutas travadas por estudantes pelo direito ao R.U público, pode ser também entendida como uma luta por mais recursos para instituições públicas, que por sua vez aumentam os gastos nos municípios de origem. Estas lutas fazem circular mais recursos e movimentam a economia local. Só para termos uma ideia dos valores, numa primeira etapa, apenas com o subsídio para alimentação, mais de um milhão de reais devem ser injetados na economia local, caso este número fosse quadruplicado, teríamos mais de quatro milhões de reais circulando na economia local. Valor que não deve ser desprezado por nenhuma cidade, e muito menos pelo comércio local.

Em algumas cidades e estados, as instituições públicas celebram acordos com associações de pequenos agricultores, que entre outros produtos para consumo, podem garantir produtos com origem orgânica e regional. Isto significa que apenas um R.U público, servindo milhares de refeições diariamente, pode ajudar a impulsionar o comércio local. Pequenos agricultores que podem vender seus produtos diretamente para os restaurantes estatizados, com garantia de procedência e selos de qualidade. A criação de um amplo programa de distribuição de renda que possa nascer de uma luta que deve ser conjunta entre estudantes, professores e funcionários. Com isso ganha a cidade, ganham os pequenos agricultores e principalmente ganha o estado do Paraná e o país. Ao fazer valer o princípio da educação de qualidade, formar-se-ão cada vez mais profissionais qualificados, comprometidos com o bem público.

Desta forma, é preciso descriminalizar a luta pelo R.U, por moradia estudantil, passe livre, bolsas de auxílio estudantil e transformar esta luta em uma pauta conjunta da comunidade acadêmica. Desta forma contribui-se para que mais recursos possam ser alocados nas instituições públicas, garantido cada vez mais o pleno direito ao acesso ao ensino superior com políticas de acesso e permanência cada vez mais democráticas. Esta, não é uma luta contra a reitoria. É uma luta em favor dos estudantes e da contribuição que a Universidade pública pode oferecer à região.

Quanto mais estudantes beneficiados por programas de auxílio ao estudante, mais recursos passam a circular na economia local. Aumenta-se a oferta de emprego e a renda de centenas de cidadãos do estado que serão diretamente beneficiados pela ampliação desta política. Sem contar é claro, os benefícios indiretos que neste momento não é possível mensurar. Estes que também gerariam renda, fixação e desenvolvimento para pequenos agricultores, numa região conhecida por suas pequenas propriedades.

No campo do ensino, medidas simples adotadas aos que recebem auxílio estudantil garantem uma rápida melhora no desempenho acadêmico. Ao conceber as políticas de auxílio, que devem ser elaboradas de forma democrática e com participação de estudantes e docentes, medidas como exigir contrapartidas como nota mínima para manter a assistência estudantil se mostraram altamente produtivas em diversas instituições.

Desta forma, ao lutar por democracia, alimentação, moradia, transporte público de qualidade, bolsas de auxílio ao estudante com dificuldades financeiras e cotistas, esta geração nos ensina o quanto ainda temos que caminhar para alcançar a tão sonhada democracia plena. Onde lutar por direitos coletivos passa a ser objeto de aplausos e não de criminalização, culpabilização e escárnio. Devemos caminhar juntos para conquistar estes objetivos e no final ter orgulho de dizer que participamos desta transformação social. Que cumprimos com nosso papel de docentes ao ensinar o valor das lutas para alcançar um país mais justo, mais igual, mais fraterno, solidário, menos opressivo e por fim mais democrático para todos e não somente para alguns. Afinal, de que valeu derrubar a ditadura se não fosse para devolver a voz àqueles que buscam o bem coletivo?



Prof. Dr. Hélvio Alexandre Mariano, é docente do Departamento de História da Unicentro - Guarapuava, Doutor em História, Diretor da ADUNICENTRO e ex-usuário do R.U da UNESP.