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Base brasileira na Antártida, cujo incêndio matou duas pessoas, teve corte de 50% de suas verbas em 2011. As verbas da base são providas do Ministério de Ciência & Tecnologia e do Ministério da Defesa

27 de Fevereiro de 2012 às 11:15:53

Chama-se Proantar o programa do governo que destina verbas às pesquisas na Antártica, que vinham sendo tocadas na Estação Comandante Ferraz, destruída por um incêndio no sábado (25) No ano passado, o orçamento do programa era R$ 18,3 milhões. Foi cortado à metade. Apenas R$ 9,2 milhões foram efetivamente gastos.

Os dados são do Senado Federal. Foram recolhidos pelos repórteres Vivian Oswald e Francisco Leali. A dupla conta que a cifra liberada em 2011 foi a menor desde 2005. No ano anterior, 2010, o orçamento do Proantar era igual ao de 2011. Também sofreu cortes. Mas a execução foi maior: R$ 15,8 milhões (86% do orçado). Verbas providas por dois ministérios: Defesa e Ciência e Tecnologia.

Integrantes da base brasileira na Antártica chegam ao Rio e lembram momentos do incêndio

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Cerca de 40 integrantes da Estação Antártica Comandante Ferraz, entre eles pesquisadores e servidores civis da base, chegaram por volta da 1h15 de hoje (27) à Base Aérea do Galeão, no Rio. O avião C-130 Hércules, da Força Aérea Brasileira (FAB), decolou de Punta Arenas, no Chile, na tarde de ontem (26) e, antes de chegar ao Rio, fez escala em Pelotas (RS) para o desembarque de quatro pesquisadores.

No momento do desembarque no Galeão, no rosto da maioria transparecia o cansaço. Um dos passageiros chegou a levantar as mãos ao céu, como se agradecesse por ter chegado bem ao Brasil. A pesquisadora Terezinha Absher, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ainda estava assustada ao falar com a imprensa.

"Eu estou assim, porque foi realmente assustador tudo aquilo. Nós ficamos do lado de fora, vendo a estação pegar fogo. Eu nem vou falar muito porque ainda estou emocionada. Foi traumatizante porque, há 20 anos, eu trabalho na Antártica, passo muitos meses lá. Era como se fosse minha casa pegando fogo. A estação é de todos os brasileiros, mas eu me sentia como se fosse a minha casa. Perdi tudo. Todo o meu material de pesquisa e todos os objetos particulares. Não sei se voltaria para lá", disse Terezinha, que trabalha com invertebrados marinhos.

Jasson Mariano, servidor civil da Marinha na manutenção da base, conta que ajudou a tentar apagar o incêndio na casa de máquinas. "Fomos acordados pelo nosso superior, nos chamando apavorado, dizendo que estava pegando fogo na base. Nós saímos com o uniforme de trabalho e fomos apoiar o grupo-base para tentar combater o fogo. Tentamos esticar a mangueira para pegar água do mar com as bombas, mas o incêndio se propagou muito rápido. A luta foi grande, mas não conseguimos", relatou ele, que estava desde novembro na estação e retornaria ao Brasil no fim de março.

Também servidor da Marinha, Marcos da Conceição, demonstrava muito cansaço. "A família sempre vinha na minha cabeça. Na cabeça de todos nós. Estou muito cansado. Está até difícil falar com vocês agora", disse.

A bióloga Fernanda Siviero, que estava desde o início do fevereiro na estação antártica, conta que os integrantes da base passaram por grande susto. "A gente estava na base quando foi dado o alarme de incêndio, a gente fez o procedimento de evacuação e ficamos seguros em uma parte da base [isolada]. Ficamos muito consternados e assustados com essa situação toda do incêndio. A gente não acreditou, na verdade, que fosse tomar uma proporção tão grande. Imaginamos que fosse de fácil controle. Achamos que ia ser só um susto e que, daqui a pouco, estaríamos de volta. Infelizmente não foi."

Já o pesquisador da Universidade de São Paulo Caio Cipro lamenta a perda das amostras de sua pesquisa. "As amostras são insubstituíveis. Eu estava participando de um projeto de hidrografia e a gente perdeu as amostras todas que foram coletadas desde dezembro [do ano passado]. Elas foram perdidas, porque têm que ficar congeladas. Como a estação está sem energia elétrica, uma vez descongeladas, as amostras não servem mais", explicou.

O sargento da Marinha Luciano Gomes Medeiros, que ficou ferido quando tentava combater o incêndio, foi o último a desembarcar. Com as mãos enfaixadas, ele foi colocado em uma cadeira de rodas e encaminhado a uma ambulância, para ser levado ao Hospital Naval Marcílio Dias.

Além de deixar o sargento ferido, o incêndio provocou duas mortes, a do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e a do sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha.

Edição: Graça Adjuto

Agência EBC