PM agride e aponta arma para estudante no campus da USP nesta segunda feira. Presença de aparato policial é incompatível com ambiente universitário
10 de Janeiro de 2012 às 00:43:32A autonomia universitária tem como fundamento preservar o ambiente destinado à investigação científica seja a ciência pura, tecnológica ou social das interferências da igreja e de governos. O ambiente universitário sempre foi alvo das investidas de governantes, muitas vezes autoritários, e da igreja no seu período mais conservador e temeroso aos avanços científicos. Desta forma a autonomia universitária visava dar melhores condições aos professores e estudantes para a crítica social e desenvolvimento da ciência sem que fossem perseguidos ostensivamente.
A presença da PM (aparelho policial do estado) significa uma presença temerosa dentro de um ambiente destinado ao livre pensamento. É notório o passado autoritário do estado brasileiro. Em toda nossa história o período democrático mais longo vivido é o atual que tem 27 anos (1985-2012). Mas ainda se traz muito do pensamento autoritário nos atos dos governantes e dirigentes universitários. A forma de pensamento e prática democrática ainda não está consolidada na mente do povo como um todo.
O que é compatível com o ambiente universitário é um serviço de segurança próprio que proteja seu patrimônio e não a presença da PM que, historicamente tem um passado de repressão a estudantes universitários.
Veja matéria publica na imprensa:
PM agride e aponta arma para estudante no campus da USP
A presença da Polícia Militar (PM) no campus da Universidade de São Paulo (USP) foi motivo de mais uma polêmica nesta segunda-feira após a divulgação de um vídeo nas redes sociais em que um PM agride um estudante e aponta a arma para ele na sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A agressão ocorreu pela manhã, no momento em que um grupo de PMs pedia que os estudantes deixassem o local devido a uma reforma.
"As agressões continuaram, mas os policiais impediram as filmagens. Um aluno, inclusive, teve uma arma apontada para a cabeça. Nós estávamos em uma reunião e chegamos a tempo de presenciar as cenas. Os PMs tentaram levar uma aluna presa, mas como havia mais gente, conseguimos impedir. Já solicitamos uma reunião com a reitoria", relata o servidor Magno de Carvalho, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp).
De acordo com ele, a sede do DCE está em reforma desde a gestão passada da USP, e os policiais teriam aproveitado o período de férias para provocar um conflito, pois a reforma está paralisada e sem previsão de conclusão. "Inventaram a reforma da reforma, para expulsar os estudantes do DCE. O clima só não está explosivo na USP por causa das férias, mas durante o ano letivo a situação ficará insustentável", disse Magno.
PM e USP confirmam agressões
Poucas horas depois de ser postado nas redes sociais, o vídeo mostrando a agressão gerou muita polêmica e repercussão. A PM e a USP, inteiradas da situação, confirmaram as agressões, mas disseram que não vão se manifestar por enquanto. "Não há como negar as imagens do vídeo, mas cabe à PM uma posição", disse uma assessora da universidade. A PM afirmou que estuda as imagens antes de emitir uma posição.
Detenções e polêmica
Em novembro de 2011, 73 pessoas foram detidas no campus da USP após invadir a reitoria da universidade, exigindo, entre outras coisas, o fim do contrato firmado entre a instituição e a PM e a mudança do atual reitor, João Grandino Rodas. O convênio foi assinado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, numa tentativa de assalto dentro do campus.
De acordo com a assessoria da USP, a instituição estuda mudanças no sistema de eleição e propostas de modificação do programa de inclusão social da universidade. Está sendo analisada a instalação de um processo de eleições diretas para reitor, com pleito em turno único, através de um colégio eleitoral de 1,8 mil pessoas votando, que incluiria membros das congregações da universidade. Em 2010, um grupo de funcionários em greve invadiu a reitoria da USP e pediu a saída de Rodas, e em 2009 servidores e professores ocuparam o local em protesto contra a administração.
Cenário de guerra
A PM mobilizou um efetivo de 400 homens da tropa de choque, da cavalaria e até mesmo do grupamento aéreo (Águia) para o cumprimento de mandado judicial de desocupação da reitoria em novembro. O prazo para a saída espontânea dos manifestantes do local havia se esgotado, após trégua negociada com a Justiça, mas descontentes com as propostas da administração da USP, que descartou revogar o convênio com a PM, os estudantes e funcionários decidiram prolongar a ocupação.
Eles não resistiram à operação de reintegração de posse, preferindo empunhar flores em protesto irônico diante do forte aparato policial. A tomada da reitoria foi levada a cabo por parte de um grupo insatisfeito com o resultado de uma votação em assembleia que decidiu, por 559 votos a 458, encerrar a ocupação do prédio de administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). O grupo deslocou o portão de trás do edifício da Administração Central, usando paus, pedras e cavaletes, e em poucos minutos chegou ao saguão principal do prédio.
A FFLCH havia sido ocupada depois que a PM abordou três estudantes no campus por porte de maconha e tentou levar os usuários detidos. Os policiais usaram gás lacrimogênio, e alunos teriam ficado feridos após confronto.
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5550010-EI5030,00-PM+agride+e+aponta+arma+para+estudante+no+campus+da+USP.html