NOTA DE REPÚDIO DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA-UNICENTRO ÀS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO. Em defesa da Universidade Pública e da pesquisa e ensino nas Humanidades.
09 de Maio de 2019 às 18:26:02A ADUNICENTRO corrobora a Nota de Repúdio do Departamento de Filosofia (DEFIL) - UNICENTRO às declarações do Presidente da República e do Ministro da Educação.
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NOTA DE REPÚDIO às declarações do Presidente da República e do Ministro da Educação.
Em defesa da Universidade Pública e da pesquisa e ensino nas Humanidades
O Departamento de Filosofia (DEFIL) da Universidade do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO) vem a público, por meio desta nota, manifestar o seu absoluto repúdio às declarações feitas pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, e pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, em relação à importância das Ciências Humanas, nomeadamente Filosofia e Sociologia, e também contra os ataques às Universidades Públicas que, nos últimos dias, vêm sendo sistematicamente perpetrados.
Dois equívocos estão sendo disseminados pelo Governo Federal, a saber, de que as humanidades não oferecem retorno ao país, devendo assim ser relegadas aos interessados pagantes, tendo em vista que os cursos são frequentados por pessoas “ricas”, justificando, portanto, que apenas cursos úteis e financeiramente viáveis, como Veterinária ou Engenharia, tenham financiamento público. Ao mesmo tempo, o segundo equívoco se situa na acusação de que a Universidade Pública não produz pesquisa de ponta, onerando os cofres públicos e fazendo com que os impostos não sejam utilizados de maneira eficiente por parte do Estado.
Ambas as justificativas servem para, primeiro, atacar as Ciências Humanas em todo o território nacional e, segundo, para justificar os cortes de 30% das Universidades Públicas Federais, causando assim o seu desmonte e a sua possibilidade de privatização.
Tais alegações são factualmente falsas. No caso específico de nossa universidade, mais de 75% dos ingressantes são oriundos de escola pública e oriundos de famílias de baixa renda, constituindo muitas vezes a primeira geração da família alcançar o ensino superior. No que diz respeito à pesquisa, mais de 95% da produção científica do país está concentrada nas Universidades Públicas. Essa produção quase que exclusiva das Universidades Públicas coloca o Brasil como o 13º em produção científica do mundo.
Outro grave erro do Governo Federal é relegar às Ciências Humanas o lugar de “inúteis”, “dispendiosas”, “sem retorno”. Todos os países desenvolvidos investem em seus cursos de humanidades, democratizando os discursos, trazendo para o espaço público uma necessidade de interdisciplinaridade que se fundamenta nas humanidades.
Com o pensamento imediatista de apenas relacionar meios a fins, nenhum país se desenvolve com valores democrático, igualdade e inclusão efetiva. Estes visam,não apenas o retorno financeiro, mas também a construção de sentidos, não apenas para a nação, como para a vida humana em conjunto. Não é verdadeiro que apenas o crescimento econômico produza melhor qualidade de vida. Negligenciar as artes e as humanidades coloca a qualidade de nossas vidas e a saúde de nossas democracias em risco. A própria fundação da cidadania e o sucesso da nação dependem das humanidades.
A imaginação política, a acuidade conceitual, as reflexões radicais sobre nossos problemas mais pungentes, sejam da ordem da justiça e do direito, da convivência e da moral, da cultura e das artes, do conhecimento e da ciência, são desenvolvidas pelas humanidades com vistas à produção de sentidos e ao esclarecimento de conceitos. Estes enriquecem cada vez mais a vida do ser humano, não apenas como animal biológico, mas, principalmente, político. As humanidades contam uma história, história essa que fala de nós, humanos, história essa que não tem fim, não está completa, que diz respeito a todos nós e que a ninguém é indiferente. As humanidades, ao aprimorarem nosso espírito, permitem que a vida possa sempre ser repensada, a partir da razão e da imaginação, sempre ampliando a visão que temos de nós mesmos, de nossas práticas e discursos e de nosso mundo.
A própria postura do Governo Federal contradiz aquilo que está em nossa Constituição, em seu Art. 205, que estabelece como objetivos para a Educação o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Não há desenvolvimento da pessoa, da cidadania e de trabalhadoras e trabalhadores sem as reflexões humanas.
Os departamentos das Ciências Humanas em nossas Universidades Públicas são reconhecidos pela comunidade acadêmica internacional, que sempre atestou nossa qualidade acadêmica e sempre estabeleceu redes de produção para que nossa excelência fosse, cada vez mais, produtiva.
Por isso, o DEFIL da UNICENTRO reforça o total repúdio à tentativa de desestabilizar a importância acadêmica das humanidades e, também, à tentativa de destruir o ensino superior público de qualidade que lutamos para construir, e que é tão importante para a construção do Brasil que os brasileiros desejam.
Por fim, salientamos também que o Departamento de Filosofia declara apoio e incentivo aos movimentos e atos realizados no País mobilizados pelos Estudantes em geral. As mobilizações locais também possuem intenso apoio e reconhecimento enquanto movimentos legítimos de oposição aos ataques que se aproximam.
Links e referências:
(Brasil é o 13º lugar em pesquisa científica mundial)
https://portal.if.usp.br/ifusp/pt-br/not%C3%ADcia/panorama-da-produ%C3%A7%C3%A3o-cient%C3%ADfica-do-brasil-2011-2016
(Universidade Pública é responsável por 95% da ciência no Brasil)
https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/universidades-publicas-realizam-mais-de-95-da-ciencia-no-brasil/?fbclid=IwAR31ElIf_6AX8wv-ut5nMu8bDENZhRKvudDwi1T1n2BMFRX2-kxe81qxmaA
(Constituição Federal e deveres da Educação)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm