Reitor da UNESP reitera o fechamento de cursos e defende “PEC do fim da UNESP”
26 de Março de 2018 às 08:50:53Na quinta-feira (15/03), às 8hrs da manhã se realizou uma reunião extraordinária da Congregação da Fclar, que contou com a presença do Reitor Roberto Valentini, que discutiu o “Plano de Sustentabilidade Orçamentária”, que na verdade representa a continuação de uma série de ataques contra funcionários, professores e estudantes da UNESP. A reunião não foi divulgada e poucos alunos ficaram cientes dessa reunião, ou seja, um movimento burocrático, levando a apenas seis alunos da UNESP a estarem presentes na reunião, mesmo com tentativa dos mesmos em divulgar a reunião de última hora.
Existe uma ameaça de fechamento de cursos, principalmente os cursos de humanas. Durante a reunião o Reitor utilizou dados que demonstravam a análise da qualidade dos cursos de graduação e pós-graduação, sendo que quem faz essas análises é a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que ajuda a subordinar os cursos aos interesses do mercado.
O Reitor também defendeu a reorganização do método pedagógico da UNESP, se baseando em um modelo norte-americano que buscava acabar com as “cansativas aulas de 2 à 4 horas” e com as “monótonas aulas teóricas”, propondo até mesmo o fim do diploma e incluindo um maior uso das tecnologias, o que fez alguns professores acreditarem que há uma possível chance de se utilizar o EaD (Ensino a Distância). Devemos lembrar que no PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), dentre outras coisas que visam subordinar a UNESP ao mercado. Algumas questões contidas no documento explicitam que a opção a ser adotada deve ser a EaD: “é possível disponibilizar todo o conteúdo eletronicamente para o aluno e cobrar desempenho adequado para esse fim?”; “como todo conhecimento disponível na Internet deve ser encarado para a formação dos alunos dentro da Universidade?” (UNESP, 2007, sem paginação). Um professor de didática achou estranhou o modelo de ensino proposto pelo Reitor, o que era um próprio questionamento dos professores de toda a UNESP-Araraquara, que são justamente os intelectuais especializados e detentores do conhecimento sobre aquilo que o estudante pretende conhecer.
Uma professora chegou a questionar: “como vou dar aula de cálculo para os meus alunos através de videoconferência?! Como será possível eles aprenderem cálculo?!”. Sobre o que falamos anteriormente sobre as aulas, o PDI também diz que é necessária a adoção de inovações didático-pedagógicas, pois nesta área “nada de moderno, nada de novo” estaria acontecendo, persistindo o “ultrapassado” modelo da sala de aula, com “aulas expositivas que remontam 3 ou 4 horas”, com o estudo de textos clássicos, grade curricular fixa e disciplinas optativas e obrigatórias. Em relação a isso o PDI chega a propor a manutenção ou não de textos clássicos e aulas teóricas nos cursos de graduação e a redução da carga horária dos cursos de graduação. Diante da introdução destes temas parece-nos oportuno indagar: é possível formar pessoas e profissionais críticos em cursos desprovidos de aprofundamento teórico? É possível desenvolver uma formação de qualidade sem recorrer aos textos que guardam conhecimentos que sobreviveram ao tempo, ou seja, os textos clássicos? Como incorporar séculos de conhecimento produzido pelo homem sem recorrer a aulas teóricas e expositivas, isto é, sem recorrer ao professor, entendido como aquele que detém um maior conhecimento sobre aquilo que o estudante pretende conhecer?
Com mais de 50 mil alunos, sendo uma das maiores universidades do Brasil, a UNESP conta com uma defasagem atual de 850 docentes, chegando a se falar do risco de fechamento de cursos. A UNESP vem tendo dificuldade para arcar com a folha de pagamento de seus funcionários, o que impede qualquer efetivação de novos professores. O repasse recebido da UNESP do ICMS permanece congelado desde 1995 na casa de 2,34%. Mas, naquela época a universidade não contava nem com a metade do número de alunos e funcionários atual.
Além da falta de docentes, gerada pelo fato de que aqueles professores que são aposentados não vêm mais sendo substituídos, a UNESP enfrenta uma série de outros problemas gerados por sua crise financeira, que comprometem a qualidade de ensino e a estrutura da universidade. Há muitos professores sobrecarregados, incapazes de realizar monitoria. Muitos cursos que necessitam de saídas de campo não vêm mais as realizando e o RU de Araraquara já se encontra sem funcionamento. No campus de Araraquara, a precariedade da moradia estudantil traz inúmeros transtornos a seus moradores que sofrem com os problemas estruturais do espaço.
Os alunxs da UNESP questionaram o professor sobre os problemas como a falta do RU, que já deveria estar pronto em 2015, já que o restaurante universitário é uma política de permanência estudantil necessária para uma universidade que preze a qualidade do “ensino, pesquisa e extensão”(conhecido como tripé universitário), ainda mais no contexto de implementação do Sistema de Cotas para alunos provenientes de escolas públicas e alunos que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas, já que no Vestibular de 2018 foi reservado 50% das vagas para alunos cotistas.
Elxs também questionaram a falta de segurança que existe na ciclovia que é caminho para o campus da Fclar, já que este fica fora da cidade e principalmente a noite fica praticamente deserto, escuro e sem nenhuma vigilância, e por isso mesmo já aconteceram vários assaltos nessa região. Também se falou da moradia estudantil precarizada, que foi invadida em um dia de festa por assaltantes que agrediram violentamente seis pessoas, colocando a prova o total descaso e despreocupação da universidade em relação à moradia e seus alunos moradores que são justamente o setor mais pobre da universidade. É um fato que a UNESP vem buscando se tornar cada vez mais em uma universidade elitista, já que além de excluir muitos estudantes através da injusta peneira social que é o vestibular, os poucos que conseguem passar não conseguem se manter na universidade pela falta das condições básicas e necessárias para que todos os estudantes da UNESP continuem estudando e com bom rendimento escolar.
Em resposta ao que foi dito pelxs alunxs, o Reitor Roberto Valentini disse que “o meu pai era funileiro”, no sentido que ele já foi pobre e que “ele já morou no meio do mato”, “eu sou trabalhador” e que “não devemos procurar culpados pelos problemas”, ou seja, de fundo o que foi colocado pelo Reitor é que, na visão dele, só porque o estudante da UNESP sofre com uma infinidade de problemas, isso não é desculpa para não estudar. Totalmente absurda essa resposta do reitor! Uma resposta populista e meritocrática, como se não ter RU e passar fome não fosse desculpa para os estudantes não estudarem. Depois o Reitor afirmou que a questão do bandejão “não é um problema de dinheiro, mas um problema de administração”, mas o diretor da Fclar o tentou corrigir dizendo que “na verdade é sim um problema de dinheiro”, demonstrando o próprio descompasso, desconhecimento e falta de diálogo entre os próprios diretores da UNESP, gerando ambiguidade, confusão e desconfiança no discurso da burocracia universitária.
É preciso seguir lutando pela permanência estudantil contra o sucateamento das universidades públicas aplicado pelos governos burgueses e golpistas que estão no comando, como é o caso do governo Alckmin em São Paulo. Mas temos que entender que é esse mesmo estado que matou a Marielle no Rio de Janeiro. Alckmin, Pezão e Crivella, são todos apoiadores do golpista Temer, e estão todos unidos numa cruzada contra a classe trabalhadora e contra todos que não se calam, como foi a Marielle, perante os ataques brutais do estado burguês golpista que busca descarregar a crise nas nossas costas. É preciso seguir o exemplo dos professores e servidores municipais da cidade de São Paulo, barrando os ataques de outro golpista, João Dória, que busca implementar a nível municipal uma Reforma da Previdência que Temer ainda não conseguiu implementar a nível federal.
É hora de lutar contra o fechamento de cursos e a “PEC do fim da UNESP” tão defendida pelo Reitor. É preciso acabar com a continuidade do golpe, lutar contra Temer que anuncia cortes brutais no CNPq, comprometendo a pesquisa e a extensão, dois pilares das universidades públicas. A crise é jogada nos ombros da juventude, que tem sua educação comprometida para que os governos, de Alckmin a Temer, garantam o lucro dos empresários.
Fonte: Esquerda Diário