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Corte de gastos esvazia pesquisas do INPE

01 de Agosto de 2017 às 10:58:01

Responsável por fazer pesquisas sobre clima e tempo, a previsão é de dias sombrios no Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), localizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).


Sem recursos para a manutenção e funcionamento, o CRS vê seu patrimônio científico – a produção de pesquisas – atingido diretamente pelos cortes feitos pelo governo federal. A partir de 2012, o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações promoveu uma redução no orçamento do INPE, que no centro de Santa Maria atingiu 60% dos recursos. 


Já neste ano, ocorreu um corte de mais 44% em cima do orçamento já enxuto, prejudicando em cheio o trabalho (leia mais nas páginas 12 e 13) dos pesquisadores. Dos R$ 2 milhões necessários ao ano para seu funcionamento, o CRS receberá em 2017 somente R$ 300 mil.


Pulsante pela sua produção de pesquisas, o CRS está mais silencioso e também mais vazio diante da situação que enfrenta. Faz parte do trabalho do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, por exemplo, a coleta de dados para aperfeiçoar os modelos de previsão do tempo para a Região Sul.


As pesquisas também fornecem informações para a melhoria das previsões sazonais, ou seja sobre o clima em cada estação. Esses dados são disponibilizados em boletins e auxiliam órgãos e institutos ligados à agricultura na orientação dos produtores. O trabalho feito pelos pesquisadores possibilita, ainda, cooncluir que a onda de calor que ocorreu neste mês no Rio Grande do Sul não foi consequência de mudanças climáticas, mas, sim, de um bloqueio atmosférico, impedindo o avanço da frente fria, conforme explica o chefe do CRS, Ronald Buss de Souza.


Camada de ozônio


Ainda faz parte do trabalho do Centro Regional Sul de Pesquisas, entre outros, o monitoramento da camada de ozônio. A partir das pesquisas, o CRS tem condições de disponibilizar dados que são de interesse da população, informando sobre os dias que exigem mais proteção dos raios ultravioletas. 


Mas essas e outras pesquisas estão devagar ou quase parando diante das dificuldades operacionais do centro. Com os recursos minguados, os funcionários terceirizados para a secretaria e apoio administrativo foram dispensados. Como consequência, a biblioteca e a secretaria do prédio estão fechadas. De terceirizados, só há um motorista e os funcionários da limpeza, mas que também já foram reduzidos, conforme o chefe do CRS. Dos 12 servidores contratados, restam só oito para a limpeza do prédio de três andares. A rede de internet é lenta e, muitas vezes, dificulta o acesso e até o baixamento de dados necessários ao trabalho dos pesquisadores. Os telefones também estão com problemas, mas, assim como no caso da internet, não há dinheiro para a manutenção. 


Os laboratórios também estão prejudicados e alguns até vazios. Os grupos de trabalho estão perdendo profissionais pela falta de condições de trabalho. Já os cinco carros do CRS estão parados na garagem por falta de combustível. 


– A situação nunca foi tão grave quanto este ano. É uma situação calamitosa, a gente basicamente não tem condições de operar – comenta o chefe do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, desolado com realidade que convive ultimamente no CRS.


Em tom melancólico, Ronald, que é oceanógrafo, diz que o que o deixa ainda mais angustiado diante da situação é a partida de pesquisadores talentosos para centros maiores, como São Paulo e Minas Gerais, e até para o Exterior. 


– O mais triste para mim é ver as pessoas indo embora de Santa Maria. Nossos pesquisadores estão desestimulados e estão indo embora – relata ele.


Com doutorado em Meteorologia concluído em março, Rose Freitas voltou para casa em Pelotas, Zona Sul, enquanto aguarda uma bolsa que não saiu no primeiro semestre deste ano como ela esperava. Ela trabalhou por seis anos no CRS e lamenta a situação. 


– É bem triste, um centro bem estruturado, mas estar dessa forma. Ver a falta de investimento no centro é muito triste – comenta Rose.


 


 


Fonte: Diario de Santa Maria