Notícias

Resistência nos Comitês Assessores do CNPQ: relato de um participante

24 de Outubro de 2016 às 10:25:30

Dia difícil hoje, no CNPq. Era o primeiro dia de reunião dos Comitês Assessores (CAs) para avaliação dos pedidos de bolsa de produtividade depois da instauração da nova “ordem temerária”. Chegamos com a notícia transmitida pelos funcionários de que não somente não seria possível a concessão de novas bolsas para pesquisadores 2, como também teríamos que proceder a um corte de 20 a 30 % em relação ao número de bolsas já existente. Isso significaria que teríamos que cortar de 20 a 30 % dos pedidos dos pesquisadores que já estavam no sistema de bolsas, o que implicava que não faríamos a “renovação de suas bolsas”, para usar uma terminologia antiga.


Imediatamente, no CA de História, dissemos ao técnico-administrativo que acompanha a área que não faríamos os cortes e encaminharíamos a aprovação dos pedidos que deveriam ser aprovados, na nossa análise. O CA não assumiria este ônus. Em seguida, procuramos os colegas de outros CAs para discutir a situação e todos também manifestaram sua insatisfação contra os cortes e uma pequena comissão, da qual eu fazia parte, foi procurar a Coordenadora de Ciências Humanas e Sociais, que também é responsável pelo setor de bolsas de produtividade, e expôs a contrariedade dos CAs em relação à medida. Esta funcionária também manifestou o seu desconforto em relação à situação.


Então, solicitamos a realização de uma reunião para amanhã para discutirmos coletivamente o problema. Ao voltarmos para as nossas salas, decidimos que entraríamos em contato com as nossas associações representativas, com a SBPC, com a ANDIFES, reitores, pró-reitores, etc., para um movimento de pressão pra sustação da medida. Obviamente, a notícia correu o Brasil e as pressões foram feitas sobre o CNPq e o “Ministério Conglomerado” que reúne Ciência, Tecnologia e Comunicação.


Depois disso, fomos convocados para uma reunião com o Presidente Interino do CNPq, às 17 horas, onde ele procurou explicar que esta situação não é definitiva e se vincula ao horizonte de redução da verba do CNPq no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, que está no Congresso, e reduz a dotação do CNPq de R$ 1.500.000.000,00 para R$ 1.300.000.000,00 no próximo ano. Segundo ele, na realidade, nenhum corte de bolsas estaria definido, mas seria necessário o estabelecimento de cenários para a possível definição de cortes de 20 a 30 %, se isso fosse imperioso, no futuro.


Seguiu-se o debate com os membros dos CAs e, mais uma vez, muitos reafirmaram em suas falas que não estavam dispostos a realizar estes cortes. E, mais ainda,  se não havia cortes definidos, não haveria necessidade de se estabelecer cenários ou simulações de cortes. Ao final, o presidente interino do CNPq, aceitou a nossa posição e disse que deveríamos continuar a realizar as avaliações sem o estabelecimento de nenhum cenário restritivo. Julgamos que, por enquanto, foi uma pequena vitória, que se deveu  a atuação dos membros dos CAs e também a pressão externa realizada sobre o CNPq e o “Ministério Conglomerado”.


Todavia, temos plena certeza de que estaremos atuando todo o tempo sob ameaça de cortes e redução de orçamento e que a nossa tarefa, enquanto membros dos CAs, é estabelecer uma trincheira de resistência interna, no CNPq, para que o atual governo não venha a sacrificar mais ainda o apoio desta agência à produção científica e tecnológica de nosso país. Esperamos que toda a comunidade científica e universitária também continue a se manifestar contra a destruição dos mecanismos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, que está embutida na ação do governo Temer, e na defesa de uma perspectiva de produção de conhecimento autônoma para o Brasil.


 


Fonte: Ciência na Rua