Nas rodas de conversa e nos corredores do Centro de Atividades Acadêmicas da Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisadores e pesquisadoras de diversas regiões do país que participam do 25° CNPG (Congresso Nacional de Pós-Graduandos) dividem uma mesma preocupação: qual horizonte se desenha no Brasil com a extinção do seu Ministério da Ciência e Tecnologia?
A decisão do governo interino de Michel Temer de fundir o MCTI ao Ministério das Comunicações é considerada um retrocesso de grandes proporções pela imensa maioria da academia brasileira. Manifestações e atos públicos têm acontecido nas maiores universidades do Brasil e somam-se às pautas dos movimentos sociais que resistem à tentativa de golpe à democracia que está em curso.
Entre os que repudiam tal medida está o vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) Ildeu Moreira, que participou de um debate sobre o tema junto com Paulo Sérgio Beirão, diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa de MG (Fapemig). “É a extinção de um projeto que já tem 60 anos no Brasil, que é o movimento pela implantação de um sistema nacional de Ciência e Tecnologia. Foi uma medida que não teve nenhum diálogo ou consulta à comunidade científica, pelo contrário, que contou com as nossas críticas”, lamenta.
O argumento utilizado pelo governo interino para o fim do MCTI foi a redução de gastos e uma suposta proximidade entre a pasta e a área de Comunicações, o que também vem sendo rebatido pelas sociedades científicas. A economia alcançada com a fusão dos ministérios não se provou significativa e o espaço para a ciência e tecnologia no novo ministério é extremamente reduzido. “As justificativas para a medida são muito frágeis”, opina Ildeu Moreira.
Segundo o professor, o fim do ministério e o corte de investimentos na área é também um grande erro em um momento de crise econômica e vai na contramão do que outros países têm feito. “China, Índia, Estados Unidos estão na verdade é apostando mais na Ciência e Tecnologia, porque essa é uma possibilidade de sair da crise, de fazer inovação, de construir sistemas mais eficientes, políticas sociais, de meio ambiente, reduzir recursos disso atualmente é um retrocesso enorme”, critica.
O 25° Congresso da ANPG segue neste sábado com oito debates e um ato polítco em defesa da democracia, com a participação dos movimentos sociais. No domingo será realizada a plenária final com a definição dos rumos da entidade pelos próximos dois anos e a eleição da nova diretoria e presidência.
Fonte: ANPG