A rede estadual de ensino de São Paulo teve uma saída recorde de professores em 2015
17 de Novembro de 2015 às 14:43:39A rede estadual de ensino de São Paulo vive neste ano uma saída recorde de professores. O corpo docente para as escolas públicas encolheu 11% em relação a 2014.
A redução ocorreu tanto entre concursados (-6%) como entre não efetivos (-16%), segundo dados da Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
O Estado tem a maior rede de ensino do país, com 3,8 milhões de estudantes.
A redução no número de professores é a maior pelo menos desde 1999, primeiro ano com dados disponíveis, tanto para o total de docentes quanto para os efetivos.
Em termos absolutos, significa que há hoje 26,6 mil professores a menos do que no ano passado (considerando setembro). Em relação aos efetivos, são 8.300 a menos. A rede possui 224 mil docentes.
As informações foram tabuladas pela Folha com base em boletins da Secretaria da Educação e no portal da transparência estadual.
Desde 2010, a quantidade de docentes só crescia. A saída atual de professores não tem relação com a reorganização das escolas anunciada em setembro pelo governo, que valerá apenas em 2016.
Críticos da mudança, porém, afirmam que o fechamento de colégios tende a acelerar a saída de professores –a gestão Alckmin nega.
VERSÕES
A Apeoesp (sindicato docente) e quatro professores que deixaram a rede afirmam que a greve neste ano frustrou parte da categoria –estimulando a saída dos servidores. Mais longa da história do Estado, a paralisação acabou após três meses, sem que o governo tenha apresentado proposta de reajuste salarial (os docentes pediam 75%).
Eles interpretam que, devido ao desânimo, houve aumento nas exonerações e nos pedidos de aposentadoria.
A Secretaria de Educação, por sua vez, diz que não houve grandes anormalidades no corpo docente neste ano.
De acordo com a pasta, parte da redução é explicada pelo concurso público feito em 2013, em que os professores aprovados começaram a trabalhar em 2014.
Ao entrar na rede, o professor tem carga reduzida. No ano seguinte, pode aumentar essa carga, diminuindo a necessidade de temporários.
O governo não explicou, porém, por que caiu também o número de efetivos.
Outro ponto não explicado: houve redução no número de professores dos anos iniciais do ensino fundamental, que não foram abrangidos no concurso público.
A redução no número de professores desse grupo foi de 11% em um ano.
"Não me sentia bem na escola. Ela está abandonada pelo governo e pelos alunos", afirma Leonardo Moi Lijo, 26, que lecionava história em Cidade Ademar (zona sul da capital paulista), pediu exoneração neste ano e atua agora apenas na rede particular. "Fiquei sem perspectiva."
Quando um professor deixa a rede, a escola tem de chamar substituto. Além da quebra na sequência de trabalho, pode não haver docentes disponíveis imediatamente.
A rede paulista está entre os cinco Estados com a maior média de alunos por turma, segundo os últimos dados do Ministério da Educação.
No ensino médio de São Paulo a média é de 34,3, acima da média nacional (31,1). Apenas Alagoas, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal têm turmas maiores do que as escolas paulistas.
O Estado diz que há áreas, especialmente nas grandes cidades, onde não há terrenos para construir escolas.
Por outro lado, a rede estadual de São Paulo tem a segunda melhor nota no ensino médio na avaliação nacional, o Ideb –ainda que apenas cerca de 10% dos alunos apresentem o conhecimento adequado em matemática, segundo tabulação da ONG Todos pela Educação.
O salário-base na rede estadual paulista é superior ao piso nacional (R$ 2.400 ante R$ 1.900, para jornada de 40 horas semanais no ensino médio). Não há, porém, previsão de novo reajuste.
Com informações do Jornal A Folha de São Paulo
FOTO: Karime Xavier/Folhapress