Segurança privada da UFPR pratica ato de intimidação contra docentes. Denúncias desta natureza têm se ampliado em diversas universidades do País e pode significar o início de um processo de intransigên
18 de Julho de 2014 às 01:37:23A Universidade Federal do Paraná (UFPR) mantém contrato com uma empresa privada responsável pela segurança dos bens patrimoniais da instituição. Entretanto, algumas ações dos vigilantes estão extrapolando suas atribuições.
Durante uma entrevista à Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (Apufpr-SSind) para a série de reportagens Copa pra quem?, o docente do departamento de Transportes da UFPR, José Ricardo Vargas de Faria, e a equipe de reportagem foram abordados por um vigilante da segurança patrimonial, que realizou uma intervenção hostil e constrangedora.
"Eu estava prestando informações sobre a questão da Copa, em uma entrevista para a Associação dos Professores, e fomos abordados por um vigilante da empresa de segurança da UFPR que questionou o que estávamos fazendo naquela situação, de onde éramos, sobre o que estávamos gravando, e registrou uma ocorrência sobre o fato", explica Faria.
Além da intervenção no local, o docente recebeu uma notificação, enviada para a direção do Setor para conhecimento e providências. "Evidentemente isso constrange, em uma situação em que um professor socializa informações sobre seu trabalho de pesquisa desenvolvido na Universidade, ser abordado como se estivesse cometendo alguma irregularidade ou ilegalidade", afirma o docente.
Risco ao patrimônio?
De acordo com o contrato firmado com a UFPR, a contratação da empresa especializada na prestação de serviços de vigilância armada e desarmada visa a segurança dos bens patrimoniais da Universidade. O documento prevê que a empresa deve informar à Universidade em casos de irregularidade e anormalidade que possam representar riscos para o patrimônio público. Portanto, para a Apufpr-SSind, a atitude da empresa é incabível, já que a realização de entrevistas no campus da UFPR não coloca em risco o patrimônio da instituição.
"A Universidade é um espaço público, é natural que os docentes deem entrevistas sobre suas pesquisas ou qualquer que seja o tema, porque é uma instituição de relevância social. Temos que questionar o fato da segurança patrimonial reprimir o meio de comunicação legítimo dos professores e interferir na vida dos docentes e da comunidade acadêmica dessa forma, afinal qual seria a justificativa de risco ao patrimônio?", questiona o presidente do sindicato, João Negrão.
Segundo o assessor jurídico da Apufpr-SSind, João Luiz Arzeno, a ação denunciada pelo docente representa, além de um desvio da função contratual da empresa, um ato de cerceamento da liberdade de expressão. "Qualquer ato que vise constranger a atividade que visa a informação é, por princípio, inconstitucional. Quando essa ação gera um ato administrativo no sentido de responsabilizar alguém por exercitar o direito de informar as pessoas, não dá para percebermos como algo normal".
"É preciso verificar quais são os critérios para que esse tipo de atividade, que parte de uma empresa de segurança, mas tem muito a ver com a orientação de quem a contrata, que é a Universidade Federal do Paraná", destaca Arzeno.
Reincidência
De acordo com Faria, antes dessa ação ele já havia sido vítima de uma atitude semelhante por parte da segurança patrimonial da UFPR.
"É importante questionar esse tipo de situação, que vem ocorrendo na Universidade, pois não é a primeira vez isso que acontece. Houve outra situação, não tão ostensiva, mas também em uma entrevista, dessa vez a uma emissora, quando a segurança questionou o que estava acontecendo naquele momento", relembra o docente.
Para o docente a reincidência da prática da empresa possivelmente reflete as orientações recebidas pelos vigilantes, vindas de seus superiores.
"Esse questionamento leva a entender que isso é uma orientação, porque não imagino que dois seguranças distintos teriam a mesma atitude se não houvesse alguma orientação nesse sentido. Mas para que serve essa orientação? Qual é o motivo do questionamento sobre entrevistas realizadas no campus da Universidade?", indaga Faria.
*Com edição do ANDES-SN