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O papel das universidades públicas na redução do extremismo

13 de Junho de 2024 às 15:40:23

As universidades públicas desempenham um papel fundamental na redução dos conflitos políticos, que se acentuaram com o crescimento do extremismo nos últimos anos no Brasil. 


São espaços de produção e disseminação do conhecimento, além de promoverem o diálogo e a reflexão crítica sobre questões sociais, políticas e culturais da atualidade. 


No Brasil, as universidades públicas sempre foram pilares na solidificação de princípios como a justiça social e a democracia. São responsáveis não apenas pela formação acadêmica de altíssima qualidade, mas por formar cidadãos e cidadãs mais conscientes quanto aos problemas do país, críticos e engajados na busca por soluções que beneficiem a coletividade, e não apenas grupos específicos.


As universidades públicas são locais onde a diversidade é valorizada e onde diferentes perspectivas e vozes podem ser ouvidas e debatidas. Elas promovem a inclusão, garantindo acesso à educação superior para estudantes de diferentes origens sociais e econômicas, especialmente a partir da implementação de ações afirmativas, que inverteram a lógica da elitização que imperava até o final dos anos 90. 


Esse ambiente plural e inclusivo colabora para os debates, análises, estudos e formulações que são importantes para a construção de uma sociedade mais harmoniosa e para a redução de tensões sociais.


Nas universidades públicas, estudantes de diferentes origens sociais convivem cotidianamente, aprendem a enxergar o outro com mais empatia e a compreender essas diferentes realidades. Por isso, as políticas de assistência estudantil são tão importantes. 


Elas garantem que estudantes em situação de fragilidade socioeconômica tenham mais condições parelhas de estudo e aproveitamento em relação àqueles provenientes das camadas mais abastadas. 


Além disso, as universidades públicas oferecem um espaço para o desenvolvimento de projetos de extensão que dialogam diretamente com as comunidades locais. Esses projetos abordam questões relevantes para a população, como saúde, educação, meio ambiente e direitos humanos, permitindo um diálogo direto com a sociedade.


 


O papel da ciência na desradicalização das pessoas


A ciência, como um dos resultados do trabalho das universidades públicas, tem um papel importante na desradicalização política das pessoas e na redução do extremismo. A ciência promove o pensamento crítico, a racionalidade e a busca por evidências, elementos essenciais para combater a desinformação e as narrativas extremistas que muitas vezes são baseadas em preconceitos, medos e informações falsas. 


Ao proporcionar uma educação científica de qualidade, as universidades públicas capacitam indivíduos a questionarem informações e a desenvolverem um pensamento independente e crítico. Esse processo é fundamental para a formação de cidadãos e cidadãs que não se deixam manipular por discursos extremistas e que valorizam o diálogo e a compreensão mútua.


A ciência também desempenha um papel importante na promoção de valores como a tolerância, a solidariedade, o respeito às diferenças e a cooperação. Ao proporcionar análises mais profundas sobre as relações humanas, a sociedade e até sobre o meio ambiente, as universidades estimulam a reflexão.


 


Como reduzir o extremismo?


O crescimento do extremismo não é um fenômeno apenas brasileiro. Grande parte das principais democracias do planeta sofre essa ameaça. Isso inclui os Estados Unidos, onde o Partido Republicano vem dando uma guinada à extrema-direita na última década, e a maioria dos países da Europa, que não conseguem conter o crescimento de partidos extremistas (alguns dos quais flertam diretamente com o neonazismo), fato evidenciado na recente eleição do Parlamento Europeu.


O capitalismo e as elites que o controlam não conseguem entregar o bem-estar que prometeram e, muito menos, solucionar os problemas reais dos países (e das pessoas). O desencanto das pessoas com os políticos tradicionais, que representam essas elites, leva à procura por soluções imediatas (às vezes, “mágicas”). 


Essa é a brecha que os extremistas encontram para se conectar com a população e apresentar suas visões de mundo que, mesmo carregadas de hipocrisia e oportunismo, ainda assim se conectam com as “dores” das pessoas. A adesão a ideias extremistas costuma acontecer por essa conexão que, geralmente, é construída a partir da distorção da realidade.


Mas ninguém pode se iludir. O crescimento do extremismo tem o amparo das elites, que encontram meios de continuar lucrando, mesmo com a degradação das relações sociais. Não por coincidência, militantes extremistas reverberam ideias ultraliberais contra o Estado, contra os serviços públicos e contra os direitos trabalhistas e sociais.


Por isso, o conhecimento científico produzido nas universidades públicas é tão ameaçador às ideias extremistas. Porque ele é construído a partir da realidade dos fatos e de ideias que levam em consideração uma multiplicidade de fatores que o extremismo precisa negar para existir. 


A disseminação de conhecimento científico e a promoção de uma educação crítica são fundamentais para combater a polarização e os discursos de ódio que estão fragilizando o tecido social.


Historicamente, as universidades públicas têm o compromisso de promover o diálogo entre diferentes grupos e de promover coesão social. Projetos de pesquisa e extensão voltados para a compreensão e a solução de conflitos sociais podem ajudar a diminuir as tensões e a construir pontes entre grupos com visões de mundo diferentes. 


Projetos que analisam a origem e os perigos do extremismo podem levar a reflexões por parte de pessoas que consomem e replicam conteúdos produzidos por grupos radicais. 


Ao promover uma visão de mundo baseada em evidências e na busca pelo bem comum, a ciência ajuda a construir uma sociedade mais pacífica e menos suscetível a ideias extremistas.


Mas tudo isso precisa ser escalonado. Não apenas a produção, mas também a divulgação e a replicação desses resultados, seja pelas redes sociais, por veículos tradicionais de imprensa e por outros mecanismos de divulgação. Essas reflexões precisam chegar à população. 


Essa é uma das tarefas mais difíceis, mas que precisa ser encarada por toda a academia.


 


Fonte: reproduzido na íntegra de: https://apufpr.org.br/o-papel-das-universidades-publicas-na-reducao-do-extremismo/