Dia da consciência negra: uma oportunidade de reflexão!
20 de Novembro de 2019 às 21:23:37Dia da consciência negra: uma oportunidade de reflexão!
No momento que atravessamos hoje, quando racismo, intolerância e violência religiosas são tão fortes, a existência do Dia da Consciência Negra é importante para refletirmos o como “não se dá a inserção dos negros” em nossa sociedade. Em nosso país, mesmo com diversas ações em alusão ao dia, não são poucas as pessoas que ainda questionam o porque da existência de uma data como o “20 de novembro”. Sempre respondo que é justamente porque perguntam é que a data tem a sua razão em existir. Sim, eu queria que todos nós pensássemos nessas situações nos 365 dias do ano.
Passados 131 anos após a dita “libertação” dos escravos, os números ainda expõem a desigualdade racial no Brasil. No país, o fato de 56,10 % se declaram negras de acordo com a (PNAD-IBGE, 2018), a superioridade nos números não se reflete na sociedade brasileira. Dados como os contidos no Atlas da Violência (2017) dão conta de que 75,5% das pessoas assassinadas no país eram pretas ou pardas, o equivalente a 49.524 vítimas, e mais, a chance de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é 2,5 vezes maior do que a de um jovem branco.
Mesmo diante de fatos tão objetivos, ainda encontramos pessoas que acham que isso não passa de “ilusões” ou de “vitimismos impostos” a uma parcela da sociedade. Esses achismos camuflam uma realidade brasileira marcada por tensionamentos e racismo, e levam a ações translocadas como a o do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), que destruiu uma placa que fazia alusão à violência contra a população afrodescendente e que estava exposta na Câmara dos Deputados, em 19/11/19.
As análises focalizadas nas desigualdades sociais por cor ou raça, devem ser observadas a fim de promover o respeito, a proteção e o cumprimento de todos os direitos humanos e as liberdades fundamentais dessa população. É preciso que todos estejamos prontos, em nosso dia a dia, para desconstruirmos situações que ainda deixam a população negra invisível.
O Brasil, mesmo caracterizado como país pluriétnico, apresenta persistentes desigualdades na renda, em inserção qualificada no mercado de trabalho, educação, saúde, expectativa de vida e outros indicadores revelados por agências[1], quando analisamos raça. As origens origens desse processo são históricas e são persistentes, e é nossa obrigação desconstrui-las. Que tal começarmos por desconstruir a ideia de que negros são “descendentes de escravos”? Não, eles não são, ou melhor, não, nós não somos. Somos sim, descendentes de pessoas que foram escravizadas.
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[1] Outros indicadores podem ser visualizados no informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil (2019), na Síntese dos Indicadores Sociais (2019), no Censo (2010) e, principalmente, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - Contínua (PNAD CONTÍNUA, 2018).
Texto escrito por:
Profa. Dra. Karla Rosário Brumes
Departamento de Geografia de Irati - DEGEO/I
UNICENTRO