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“A intensificação da terceirização é a volta da escravidão”

27 de Junho de 2016 às 09:20:10

O professor Ricardo Antunes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos intelectuais mais importantes da área do trabalho, esteve em Curitiba no mês de junho para uma palestra no auditório da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (FETAEP) sobre “Terceirização e Violência no Trabalho”. O professor falou para estudantes, profissionais e a todos os interessados da área, que atinge, inevitavelmente, todos nós.


O evento foi promovido pelo Núcleo de Estudos de Violência Organizacional (NUEVO), vinculado aos programas de Pós Graduação em Tecnologia (PPGTE) e em Administração (PPGA) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).


O professor Ricardo Antunes começou sua explanação afirmando que o aprofundamento da terceirização não é apenas uma realidade brasileira, mas um fenômeno em escala global. Para ele, a externalização da produção é decorrente dos últimos abalos que os alicerces capitalistas sofreram a partir de 1968. Desde então, o neoliberalismo ganha força, trazendo a hegemonia do capital financeiro, a acumulação flexível e a eliminação de sindicatos que não se alinhasse com os capitalistas. “Aqui no Brasil, governos que não tocam a cartilha dos bancos são descartados, como aconteceu com a Dilma”, explica.


De acordo com o palestrante, o trabalho reestruturado com maquinário e desprovido de direitos ao trabalhador é o cenário ideal para o capitalismo. “O capitalismo pode reduzir ao máximo o trabalho, mas não pode eliminá-lo”, afirma. Antunes aponta alguns exemplos internacionais de flexibilização, precarização e terceirização do trabalho:



“Na Inglaterra, existe algo chamado de contrato de 0h. É um contrato sem tempo determinado. Você só trabalha e ganha quando for solicitado, mas tem que estar de prontidão o tempo todo”;


“O serviço de Uber também é um exemplo. Enquanto táxi paga taxas e impostos, os motoristas de Uber nada pagam para prestar esse serviço. Está havendo uma‘uberização’ do trabalho”;


“O Wal Mart, nos EUA, terceiriza contratos, que nada mais é que a terceirização da mão-de-obra. A empresa tem de 6 a 9 mil fornecedores que, por sua vez, tem 60 mil empresas. Muitas delas no sul da China, onde se sabe que há abusos ao trabalhador”;


“O empresário brasileiro vai à China comprar um par de meias com a marca da Lacoste costurada por U$2 e a vende aqui no Brasil por R$80”.



Ricardo Antunes acredita que esses exemplos indicam que a precarização do trabalho é a tragédia do nosso tempo, pois a exceção está virando a regra. “A intensificação da precarização do trabalho é a volta da escravidão. Onde não há luta, onde não há resistência, o empresariado se agranda”, completa.


PLC 30/2015


Especificamente sobre a PLC 30/2015, projeto de lei que permite a terceirização da atividade fim de uma empresa, o professor enumera o porquê de essa proposta interessar tanto aos empresários nos dias de hoje. “Primeiro que diminui os custos da força de trabalho, afinal trabalho é custo para eles. As empresas que contratam serviços de terceirizadas não pagam direitos trabalhistas, esse problema é das terceirizadas. Por fim, a crise é a hora em que os empresários arrebentam com a classe trabalhadora”. Para Antunes, a terceirização é proporcional ao desemprego: quanto mais gente terceirizada, maior é o desemprego.


A palestra termina com um balanço do governo em exercício de Michel Temer. “Ao mesmo tempo em que Henrique Meirelles sinaliza mexer na previdência e na lei da terceirização, Temer não indica que vai taxar as grandes fortunas e os bancos”, conclui. Em suma, a perspectiva com Temer é a do fim dos direitos dos trabalhadores, pois, para o professor e pesquisador, a terceirização é o vilipêndio do trabalho.


 


 


Fonte: Metal Revista