Professor da Unicamp explica o projeto do PSDB para a educação pública
13 de Fevereiro de 2016 às 01:35:41Diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP, Luiz Carlos de Freitas
Em 2015, professores da rede pública de seis estados desafiaram os governos estaduais com uma greve que buscava não só melhores salários como também uma escola pública de qualidade. Em São Paulo, foram 92 dias.
No Paraná, com 50 dias de greve, a violência policial contra os servidores públicos, manifestantes e jornalistas mostrou quem era a PM do governador Beto Richa (PSDB).
O governo de São Paulo, baseado na experiência de Pernambuco, quer se livrar das suas escolas. Tem planos para terceirizar a educação passando sua administração para Organizações Sociais (OS). Assista aqui a primeira parte da entrevista.
Em São Paulo, a truculência da PM contra os estudantes não foi diferente com o projeto de “reorganização” das escolas. Após o levante dos secundaristas pelas ruas e pelas mais de 200 ocupações, Geraldo Alckmin (PSDB), que não recuou durante a greve, cedeu, temporariamente, às reivindicações e suspendeu a aplicação do plano para 2016.
Em Goiás, desde dezembro, os estudantes seguem na luta contra a militarização do ensino e a imposição do governador Marconi Perillo (PSDB), em transferir a gestão das escolas públicas a organizações sociais. Até o momento, são 27 escolas ocupadas.
Nos estados governados pelo PSDB, o modelo é transferir a escola pública para a iniciativa privada. De acordo com o National Center of Education Statistics (NCES), o número de escolas públicas norte-americanas administradas pela iniciativa privada, conhecidas como ‘Escolas Charters’, soma mais de 6 mil, em funcionamento desde 1999. No Brasil, os estudantes de Goiás seguem na luta contra a imposição do governador Marconi Perillo (PSDB) em transferir a gestão das escolas públicas a organizações sociais, além da militarização do ensino.
Segundo o educador: "Está se reduzindo o conceito de formação humana para a dimensão de aprendizagem. Que é para poder medir. Isso opera uma redução que deixa as práticas da escola muito pobres e sem riqueza educacional. Por que passa a ser um ensinar apenas para passar bem no teste. A terceirizada vem com este compromisso. O problema dela é bater a meta do IDEB, é bater a prova do ano passado na a prova Brasil. Se ela não tiver melhorado no teste, ela perde o contrato. Como já antecipou a secretária de educação do estado do Goiás. Ela disse que se uma terceirizada não bate a meta, chama-se outra. O professor, que fica à disposição da escola, preocupado exclusivamente em atender aquele gestor não pode ter estabilidade. Se ele tem estabilidade, ele vai atuar como educador que tem a dignidade e autonomia sobre seu método".
"Ninguém é contra o mérito. Nós somos contra o mérito elevado à condição de organização e motivação suprema, a meritocracia. Ele cria uma dificuldade para o próprio conceito de igualdade. Porque o mérito olha para o resultado, não olha para o processo. Com isso ele interrompe os processos em curso que levariam à equidade. Ao olhar apenas para os resultados, ele coloca como perdedores todos aqueles que não atingirem o resultado. É a lógica do mercado. É uma lógica baseada em ganhadores e perdedores. Para o mercado essa lógica é um processo natural. Mas essa não é a lógica do sistema educacional onde todos devem ser ganhadores. A educação só pode gerar ganhadores. E é por isso que a lógica do mercado não serve para a lógica da educação. Pela lógica do mercado ela amplificará os processos de segregação social".
Nos EUA: Escolas Charters: mais caras e sem melhores resultados
Em 2006, os secundaristas chilenos foram às ruas pedir o passe livre estudantil e melhorias para o sistema educacional a então recém-empossada presidente Michelle Bachelet. O movimento, que resultou no documentário “Revolução dos Pinguins”, do diretor Carlos Pronzato, inspirou a luta e as mais de 200 ocupações dos alunos da rede estadual paulista contra o projeto de “reorganização” das escolas do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A aplicação do plano foi suspenso até 2016.
Neste vídeo, o Diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP, Luiz Carlos de Freitas, explica em que contexto está inserido projeto do PSDB para a educação pública. (Laura Capriglione e Jeniffer Mendonça do Jornalistas Livres; edição Carta Campinas).
Com edição da Adunicentro
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